quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Osso ruído


ouvir o rumor

de espíritos (tutano

inundando os lagos).


roer o ouvido

de vidro (faca

cravando na cova

do morto-vivo).


reger o umbigo

do infinito (mosca

voando sobre abismo).


umedecer as garras

do mito (máscara

fumando as visões

do esquecido).

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

a cabeça encostada
na árvore.
meu reino
por um punhado de alucinações.
garotas nuas distribuem panfletos
anarquistas. uma multidão
canta as novidades lunares.

eu andarei sobre o rio
congelado da memória
atravessando a noite e o dia.

entregarão meu cadáver
aos abutres do himalaia.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

eu vi a árvore
cujas raízes mergulham no inferno
e os galhos alcançam o céu

eu li o voo dos pássaros
e o incêndio no véu da ilusão

eu ri do exército de idiotas
batendo boca com o abismo

o tambor é um tigre
mordendo as costelas do tempo

eu vi meu esqueleto atravessar
a membrana verde do espaço

eu li as canções do vento
nas costas da deusa

eu ri da tempestade ancestral
e do caroço da verdade

o tambor é um cavalo sem sede

eu vi a garota ruiva
triturada pela indústria

eu li as tensões e fadigas
nos músculos dos primatas

eu ri do desejo pelo mar
de coisas e coisas e coisas

o tambor é um gafanhoto
roendo a mente

eu vi o dragão lambendo
o corpo nu da cidade

eu li os corações acelerados
da multidão

eu ri dos bípedes trocando
energia vital por cimento e solidão

o tambor é um macaco magnético
perambulando na noite primordial.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

derrubar estrelas
sobre nossa aldeia

descobrir idéias
numa fruta que apodrece

dissolver a imagem
deste ego breve

descascar as sombras
que envolvem a pele

duvidar do sol.
como um corpo
deitando na lama:
cama calma
para a alma em chamas.

como um corvo
desviando da sombra.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

mordendo:

as pernas do medo
os olhos da vida
as uvas do tempo.
uma navalha, uma pupila
um gole de vinho no escuro

um corpo deitado
sobre cacos de vidro:

a respiração do futuro.
procurar uma montanha
que manteha acesa
minha lua no peito
e que ponha um segredo
sob as unhas do vento.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

cachorros e antenas digitais
um gole de vinho
perto do abismo

a noite temperada
e o incêndio ancestral
(a boca da terra)

palavras & desordem:
garimpo da alma

a Mulher Que Ri
e um babuíno num colchão
na casa da árvore.
um mosquito
engole o infinito

o sol espalha brasas
nos telhados das casas

calço os sapatos
costurados pelos ratos

a chuva renova
as flores da cova

há um leão
no ventre do grão.
deitado
junto das vacas verdes
com os dentes
mordendo a alma

árvores
nos ensinam canções

e nossos corações e o sonho
mugem dentro da sombra.