domingo, 20 de maio de 2007

e perco horas com o silêncio.

e penso que sonhar é pouco.

como estender as asas para ir se deitar no horizonte?

acho que esqueci o rosto de minha infância.

(as fotografias espalhadas sobre a mesa não falam de mim

suas luzes acusam outro universo

imagino que se trate de antimatéria)

as longas noites como abismo passam se não pouso os pés.

(que disse? me reviro sobre a cama e mergulho no outro de mim)

vou deixar as palavras entre os lírios para que o sol as alimente

dentro da alma que irei inventar agora.

Bum!

não me esperem (eu digo isso pra mim).

--- correr, correr, correr

vai, menino!

é preciso perder o medo do acaso

do sorriso e da garganta do futuro

(entro em espelhos, meus olhos se tingem de segredos

comungados por sussurros. desejo que me escutem)

pular para (...)

# estar-no-mundo

Benção para um Lêmure

que tu acenda o verde de todos o séculos

que a tua cabeça tenha ninho de coração

que tu aprenda e desaprenda por prazer infantil

que tu vá e volte

que tu seja

que tu alimente um pássaro perdido

que tu alimente um pássaro achado

que tu fale com crianças se levantando até elas

que os velhinhos continuem sendo brilhos nos teus olhos

que buda seja uma flor em tuas mãos

que tu invente o dia

que a lembrança de tudo seja boa

que o sorriso seja um doce, um brigadeiro

que a palavra acerte e erre

que a noite também seja tua amiga

que tu não olhe o horizonte com indiferença

que tu saiba das plantas, ainda mais

que tu sinta das plantas, ainda mais

que tu seja junto com os outros animais (inclusive comigo)

que tu não adiante o tempo - só o entorte vez por outra

que tu ouça o rio da felicidade - mas saiba mergulhar e não morrer afogado

que tu permaneça voando por todo tempo

que tu acompanhe a partida das velas

que tu pise nas nuvens e dance em cima dos muros

que tu se reinvente, sempre

que tu esteja em paz


que tuas mãos sejam ágeis para amar e tardas pra odiar


que tu não dê a outra face, mas saiba dar uma gargalhada


que tu acolha o pequeno príncipe no teu coração


que nas tuas costas nenhum deus se atrapalhe (nelas só o vento)


que tu dê as mãos a muitos deuses e a muitos humanos


que tu aprenda com estranhos sobre a possibilidade e sobre o acaso


que tu tome sorvete só por que é frio e engraçado


que até chegue a encostar o sorvete na testa


que pedro seja mais velho que tu


que tu vire água


que tu seja um lago, à tarde e pela manhã, uma cachoeira


que seja tudo - até o brega


que tu perca o medo do brega e do trivial


que tu se suje de cotidiano - mas cotidiano sublime


que tu enxergue a ponte que liga os seres humanos


que tu me perdoe


que tu esteja lá


que tu não olhe o sol com tanto raiva ou tanta coragem


que coloque as asas de cera


que tu tire as asas de cera


que tu escreva e não escreva


que tu vá


que tu se enrole de futuro - mas viva pra agora


que tu se despeça dos relógios


que tu se atrase


que tu saiba dormir e saiba acordar


que tu goste de beber água


que tu goste


que tu aprenda a fazer comidas boas


que tu ressuscite o afeto de todos


que tu seja tu


e que, repito, tu vá

aí seremos abençoados

pela noite e pelo dia

por todos os pares

por todas as faces

que tu caminhe sem pressa, mas sem demora

e que tu carregue papel e caneta - pra me explicar o mundo,

por teus olhos, por teu cinema

e que tu adormeça na vida e acorde na vida


e que tu OM


OM

OM

OM

(...)

por meus poros

por-me us poros

p or me usp oros

pormeu sp oros

p o r m e u s p o r o s

po r meu spor os

p orme us po ro s

pormeusp o r o s

p o r m eu spo ros

porm eus p o r o s

pormeuspo r o s

pormeusporos

põe as auroras

sobre a mesa

enquanto toma

um café amargo


devolve a luz

que o horizonte

deixou embaixo

dos lençóis


apaga a palavra

(rejuvenesce)

escrita dentro

da terra

e mergulha

na garganta

das passagens


apodrece e

cria os musgos

que não sabem

de teu rosto

ouço

o que roço


/ ruído

/ palavra

/ barulho


todo som

tem pele.

estamos

no Monte da Aranha

e vemos o mundo.


acima do tempo

nossos avós

se divertem.

debaixo do rio

nossas crianças

invertem

o curso

das águas

com sorrisos.


a terra é uma benção

e estamos

dentro

de sua respiração.

e o cheiro do sol

cobre

de ouro

meus olhos.


e a órbita do breu

é breve

e escorre

por meus poros.

não ilumino a noite com

todos os fogos o fogo.


a cabeça pousa

numa pedra:

a rebelião.


esse silêncio

que resiste e

se aninha no

ventre:

a rebelião.


desrumo

atravessado

de inícios.


não.

atiro contra o céu

o peito aberto

o sangue a

gengiva e

todo medo

é sobre

os escombros que

caminho

toda ruína

é imagem.