sábado, 21 de dezembro de 2013

linha escura no espectro solar

relembrando o futuro, nove
garçons comentam sobre
os cães latindo & o anjo
da morte rondando a cidade.

vermes, vírus, vassouras
passeando na cabeça
dos advogados batedores
de prego e suas pragas.

máquina do fluxo, luxo
do corpo em obras, dobras
do coração sideral roncando
entre os motores e as macas.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

restam cinco
folhas, claro
mais tarde,
lua rosa.

eu fui
lentamente
acolher vagalumes
sobre meu chapéu.
beat bipolar, polegares
pedindo caronas
para cavalos,
coçando os olhos
da sombra.

nunca aprendi a pousar,
disse o iogue para o tiê-sangue.
é preciso olhar os dentes
dos cavalos doidos

cavar poços d'água
na terra escura
da consciência

conversar
com o carvão
em suas jornadas
de morte e respiração

visitar a mata fechada
das emoções

enquanto os pés
cantam tranquilos
as sombras das curvas
coração de vidro,
a chuva fica lá fora.

não há chave de fenda
ou imã, coração de vidro.

movimentos de baixo impacto
da hidroginástica, manhãs:

os cachorros da lua patrulham
as despedidas dos cedros.

coração de vidro, malandro
que perambula pela floresta
de arrepios em seu escafandro.

domingo, 8 de dezembro de 2013

o tempo também
tem joelhos
doloridos.

telhados verdes
onde deitamos
para compreender
o silêncio da lua.

televisões eternamente
fora do ar, mulheres & ilhas
de perfumes brutais.

espíritos molhados
na saliva das jovens deusas.

curvas e mistérios, tempestades
de sons que invadem a caixa preta
do crânio & seus sonhos mais secretos.
a noite não tem idade:
sangue que o tempo
não envelhece,
trampo nenhum
devora.

a noite não tem idade:
boca do deserto, paciência
dos ruminantes, orelhas
frias do silêncio
vital.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

as paisagens devastadas,
histórias de uma vida
atravessada por mordidas.

não há malas suficientes
para carregar uma música
que o solo está cantando.

descalço: a contemplação
das formigas não acumula
poeira nos depósitos da alma.
cadeira e calor,
mosquito.

infinito,
beleza e amor.

sábado, 30 de novembro de 2013

papeando com pasolini

descanso todo dia
e à noite perambulo
como um bacurau
catando insetos.

uma sugestão:
santificada seja
a escuridão.

respondo aos olhos
estranhos tranquilamente.

contemplo minha abolição
com a coragem sutil de um sábio.

aparência de raiva, estes são versos
de atenção amorosa e paciente.

jovens e velhos autoritários
são formas da tristeza mais cruel.

outra vez como um pássaro:
tudo vejo, voando.

mente serena, levo no coração
a consciência que amanhece.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

qualquer coisa que escapa, um tipo
de loucura incendiando automóveis.

chuva ácida, psicodélica e doce
quando o céu acaba numa piada zen.

pulos do macacos, moquecas de peixe
com amendoim e exercícios telepáticos.

sons dos pés batendo firme sobre o chão,
grão das gritarias noturnas, abdução.
pupilas, papoulas,
papo com doulas
e noites de chás.
desejo da eternidade,
despejo da eternidade.

ninharias, palavras, coices:
murro no escuro da caverna:
nenhuma prisão, flor, perna
esconderá a mordida das foices.
javalis bebendo água
no charco da pupila.

sol, sangue quente:
corações saudando
o vento no capim.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

serenamente incinerar
a segurança aparente
dos planejamentos.

as fobias, o caos
de cimento
e seu sufocamento ígneo
sejam apaziguados
na saliva antiga
da mãe aquática.

totem & tutano,
tu estando aqui:
tudo bem.
todo poeta
se perde com mapas,
é míope e mastiga
espinhos e pétalas.

todo poeta
está em guerra
& paz consigo,
urra e berra,
debaixo do sol,
se nutre do sangue
do umbigo da terra.

todo poeta
é uma puta
consertando
bicicleta.
todo poeta é holden
apanhando um punhado
de estrelas suicidas,
apunhalando coelhos
dos mágicos caolhos .
 

todo poeta bebe
com a morte e foge
com as equilibristas.
proponho um esquema:
troco soluço e problema
por um monte de poema.

proponho uma escama:
o silêncio, pachamama
e um verão na cama.
transmissão radiante, místicas
bolivianas partilhando bolas de gude,
crianças assobiando e o sol bebendo
e bebendo copos de suco do céu alaranjado.

fumaça azul, saudade e aeroplanos
guardados/grudados no calcanhar.

domingo, 24 de novembro de 2013

meu carma adormecido
no ovário da papoula,
cama aquecida
com o roçar
das peles.

medicina da alegria
no riso incontido:
as nuvens dizem
uns mistérios
do ar.

sábado, 23 de novembro de 2013

e fico pensando quem
vai pegar o trem
que leva a lugar
nenhum
o corpo que sente
não é uma máquina.

o corpo que santo:
sangue, seiva, ar

) o corpo ( y ) o canto (
a montanha também
tem seus pensamentos.

neblina, poeira sacudida
pelo ar, grão das vozes
de morfina da manhã.

buda deitado mascando
sementes de cânhamo,
manto das árvores
que bailam.
paz & paranóia, a máfia
lambendo os olhos solares
das vacas azuis sagradas.

lâmina do pensamento
boiando na carne do rio.

gritaria, insetos dançando
na gruta, céu da boca nublado:
plantas dos pés germinando.
teatro da música eterna, ouçam
o trabalho das fricções, a cidade
evaporando lamentos e sonhos,
assobios e assobios e assobios.

carcaça e cárcere, cachaça e sol
costurando doidices de pedra
na boca dos macacos.

ruminações, ramas
verdes, apesar.

dança rodopiante,
voz da galáxia
mais distante
do umbigo.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

daqui pra lá:
prana, pular
ondas, polir
medulas.

daqui pra lá:
prumo, lar
sensível, öm,
ir até o im-
possível.
a esperança
é uma onça
subindo
em árvores

a esperança
é uma onça
nadando
n'água clara

a esperança
é uma onça,
pequenina e
forte, uma
criança.
amor divino,
divina amora:
hora da canção
de eros & aurora.
mulher azul
do horizonte,
homem verde
debaixo do chão.

vento assobiando
entre as árvores,
vento dentro
das pessoas.

ar sagrado,
ar sagrado,
ar sagrado.
tartaruga, rosa rugosa:
haverá sabedoria, sapo
batendo papo na porta
do crânio, uma magnólia
e delícia que se renova.

sábado, 5 de outubro de 2013

apropriação do relato do pato, da morte e da tulipa

não haverá lago, não haverá ego. subiremos
numa árvore e não desceremos logo.

entre os galhos, entre as folhas ficaremos
e então, iremos para as raízes, decompostos

e recompostos.

luz do sol, energia da lua:
sobre nossa carcaça surgirá
a alma de um dervixe que gira
e antecipa o vermelho da tulipa.

assim é a vida, pensou a morte.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

o riso é oração,
a razão é covarde.

a tarde da mente,
o dente do improviso.

visões, fricção
da pele com a terra,

experiência da quietude, alma
fértil para sementes de alegria.
melhor dizer amanhã,
molhar e ser a manhã.

melhor dizer amanhã,
molhar e ser a manhã.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

nem o chumbo do passado,
nem o chumbo do futuro.

só o mambo do presente,
só o mambo do presente

e sobre a tumba do ego
uma rumba, outra rumba.
o que eu chamo
de sorte é um
toque ligeiro,

estar inteiro
numa percepção
singela:

nem lembrar
da morte

r e s p i r a n d o

no ritmo
do riso
dela.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

alegria sem causa,
amor com asas
ultrapassando
os muros das casas
dos egos feridos.

alegria sem causa,
mares e abrigos,
acolhimento
e ouvidos.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

árvores viajam nas profundezas,
raízes sondando os sonhos
da terra, paz aquática
nutrida nas delicadezas.

árvores viajam lentamente
na barriga dos pássaros,
passos firmes no céu imenso,
incenso povoando a mente.

árvores viajam no sangue,
nos guinchos dos saguis,
árvores me começam
e abraçam minhas filhas.
para ficarmos nus
é preciso desatar
todos os nós

corpos inteiros,
almas plenas
na dádiva presente

e na memória
nenhuma dor
será alimentada.

para ficarmos nus
é preciso a risada
do lótus azul.

sábado, 14 de setembro de 2013

com amor amansar
um pedaço de mundo
e nele se instalar.

inundar de sonhos a vida
numa defesa contra a morte
antes da morte, cotidiana.

sorte do louco, sorte:
ouvir muitas águas
correndo, correndo.

cultivo erótico da jornada
rumo ao umbigo do sagrado.

poesia, eco do afeto:
flutuação dos leopardos
atentos às perdas das pérolas.

experiência contínua, garota
nua comendo amoras, amores
salivando sobre as auroras.
li o silêncio todo
li o silêncio todo
li o silêncio todo

deitei, deitei e fui
coberto de lodo.

uma livre adaptação de trecho de black elk (1863 - 1950)

deixe-me ouvir
as lições escondidas
em cada folha e rocha.

eu busco forças
não para ser maior
que meu irmão e irmã

mas para lutar
contra meu maior
inimigo, eu mesmo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

estudo dos modos de nutrição dos delírios

inspira e respira, maninha,
andando para lá e para cá.

oxigênio e movimento
são levitações.

equilibra a fome de afago
sem apego, exercita o amor
entre as devastações do incêndio
e as águas calmas que excitam as almas.

grita nos ritos das grutas e das ruas,
rodando no samba das sombras.

maninha, tira cochilos na morada divina
e, ao acordar, não acompanhe a caravana
de pessoas tristes, mas cante e ame.

conseguir é seguir, maninha, com raízes
e sonhos na terra entre ervas daninhas:
a felicidade possível é uma benção,
invenção para muitas noites e dias.

delírios são flores, maninha,
no útero azul do futuro.
nossa respiração
salta o muro.
menor ideia sobre a dinâmica
da escritura do vento nos ouvidos
e espalhando meus cabelos

menor ideia sobre a distribuição
das plantas e estrelas ao redor
das fogueiras nas praias

menor ideia sobre a noite longa
que se estende nas quedas
dos anjos e das cachoeiras

menor ideia sobre a vertigem
do ego devorando as pernas
das aparições carinhosas

menor ideia sobre a gestação
dos diamantes na língua
perdida do amor

menor ideia sobre a geladeira
que acolhe as lembranças
das cidades solares

menor ideia sobre a cabeça
gigante que o martelo
do tempo acerta

domingo, 1 de setembro de 2013

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no barco bêbado da noite
embalados pelas canções
das vespas e dos estômagos.

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no tapete voador usado
que guardei como vinho
para soluços e festas.

conte-me dos horrores,
não recuarei. seguiremos
no elefante perguntando
ao pó sobre nossos dias
entre cinzas e sonhos.

sábado, 31 de agosto de 2013

o xamã virou um sapo
e continuou batendo papo
sobre a coragem do primeiro pássaro.

amanhã eu vou lá ontem, disse.

eu fiquei tentando ler a fumaça
que subia e dançava sobre sua cabeça.

a fogueira iluminava as pupilas, panteras
mordiam as tristezas e as carregavam para longe.

vi uma estrela sortuda caindo na língua do sapo.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

a rã é a mãe
da montanha.

aranha, mãe
da manhã.

avelã, olho
do deus caolho.

ovelha, telha
dos dias frios, lã.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

gatas alucinadas mascando menta:
as sete irmãs do sono.

elefantes embriagados
vivendo de cervejas
e laranjas.

lebres, sonhos doidos,
gotas da chuva.

lagartas azuis penduradas
nos telefonemas da grande calma.
seja como água, meu amigo,
disse bruce lee sorrindo.

dobrando, esticando, tudo
se move e canta e fica mudo.

seja como água, fluindo,
indo embora toda hora
sem sair do umbigo
do agora.

seja como água, sumindo
no ouro do outro, rindo
das cascas das formas.

seja como água, água
de beber, camarada,
água do banho nu
no rio da madrugada.

seja como água, vazio
é forma, forma é vazio.
seja como água, seja
quente, quente, frio.
ritual,
ri tua alma.

tesoura da vontade,
tesouro do vento de
agosto com saudade
do besouro desatento.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

dormem bem, seguem
tranquilos papeando
a noite inteira em sonhos
com fantasmas e grilos.

abandonaram a paranóia,
esta sensação velha,
de tentar obter uma jóia
polindo uma telha.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

o silêncio do grilo pesa
pouco mais que uma
tonelada de linho.

lembrando beto barbosa

a garota grita, berra
a garota urra, brada

dançando lombrada,
dançando lombrada.

(repete enquanto
houver canto)
mago lombra
quase não
faz sombra,
tão esguio.

mago lombra
pouco lembra
da viagem,
tanto frio.

mago lombra
vai embora
de lambre-
ta, sumiu.

domingo, 25 de agosto de 2013

via expressa para teu esqueleto,
amores e amoras, ataraxia.

roubaremos as cargas do trem,
montaremos cometas prateados.

bolsos furados pelo fogo, logo
cantaremos os mantras das lontras.

garota, gritaremos pelas ilhas por
diversão e nus apreciaremos o silêncio.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

tranquilidade, somos
poeira cósmica,
maninha.

que os olhos não cansem
e as almas guardem
trampolins do espanto.

o ouro é colisão.
tanto brilha, cega.
deitemos no telhado,
observando o céu.

sejamos humildes, maninha,
feito escaravelhos sagrados
que embolam bosta orientados
pelas luz das estrelas.
não morra antes
de morrer, não
corra antes de
ouvir o vento
chegar, não
jorra vinho
antes da
(se)mente
mirar: chão.
vai, abraça e ama:
a lua, a lua brilha
na poça de lama.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

amar
a mulher
e o mar:

desatino,
destino.

enigma do sol,
enigma do sal,
enigma do sul
dos corpos.
pedaço de aço
em flor convertido
pela senhora vida
com seu capricho.

tudo renasce, respira.
e o presente, mesmo
com este dente
no pescoço, é
uma maravilha: seibá
do sabiá da sabedoria.

domingo, 11 de agosto de 2013

o céu e a carcaça
a praça e o umbigo
o inimigo e a criança
a esperança e o amargo
o embargo e a bonança
a pança e o esquelético
o profético e a dança

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

coragem, meu bem, coragem:
eu sei que a viagem é longa.
te prepara, descansa, alonga.
beijo tuas pernas, faço massagem.

atravessaremos as madrugadas,
viraremos pelo avesso as estradas:
todas as trilhas, sendas, entradas
nos levarão para longe das ciladas.

tenha fé, seguiremos a pé, tenha fé:
há festa e felicidade, aprendizados
dos ritmos, audições do rio, nós rimos.

nadaremos, meu bem: a água educa
nossa cuca cansada, lábios, olhos, almas.

corpos e almas em suspensão

ávidos de vida, entre
idas e vindas, dentes
e danças nos fogos,
madrugadas, línguas
fervendo nossos corpos
(mapas): dois primatas
no cio das matas.

meu frágil calcanhar:
abocanhar teus mamilos.
viro jaguar, vários felinos
na folia das lambidas.
olhos de tigre, trago
teus sussurros e gemidos
para festa dos meus ouvidos.

linda e nua, debaixo da lua
você me alegra, você me alaga
a boca quando louca usa
as mãos agitadas e ternas
para grudar ainda mais
minha cabeça entre as
tuas pernas.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

não sei, mas tudo bem.
não quero ser sabido.
quero sentir os pulsos
da vida. sem dúvidas
receber as dádivas:
amor e lágrimas.
curioso com o que manjas:
som das orquestras de banjos,
inúmeras aparições de anjos
e deliciosos sucos das laranjas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

o incendiário e as gérberas

elas estão vivas, vermelhas
e quebram as telhas
da cidade cinza.

vai, macaco do fogo sagrado,
incendeia os contratempos
e aprende as gargalhadas
das espantosas gérberas.

desculpa não é olá, bom dia.
use com cautela e aprecie
a noite fria.

sopra um grilo, talvez
sibila, no ouvido:

dizer o que não pensa
para ouvir o que quer
é uma estratégia triste.

alimenta o tigre que existe
em teu peito e paira
acima do juízo.

sorri, sorri bastante,
seja mutante, tonto.
tanto afeto sem teto
comunica com as estrelas.

respire e lembre:
a vida é rio, raio
cruzando o céu
da boca.
nove noites, nove dias.
pele enrugada dos primatas.
autorretrato debaixo d'água:
aprendizado e alegrias.

fluir, fluir sempre no sopro
do espanto. coração chuvoso,
orações: palavras líquidas e magias.

haja em mim o saber do sim,
cheiro de alecrim e renovado encanto.

hoje eu vim de peito aberto
como o rio, esperto para o riso
e para o pranto.
flor de lótus
brotou no umbigo
do lodo.

dispenso motos.
a pé respiro
o TODO.
há muito troquei
a miséria da telefonia
por simpatia e telepatia.

não há contas da celpe
para meus sonhos elétricos

e a compesa não toca
na água dos meus olhos.
gosto dos gestos lentos
de tuas pernas enquanto
caminhas para os sonhos.

observo teu sono, sinto
as vibrações sutis dos olhos.

ouvidos povoados pela respiração:
mãos no calor da caverna de fricções
e afetos enroscados entre beijos, abraços.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

enquanto o barulho da chuva
flutua, enquanto o amor não
cega, enquanto o silêncio é
compreendido, enquanto
anões gritam poemas.

enquanto as frutas adoçam
a boca, enquanto a língua
passeia cometas, enquanto
a fome acelera a vertigem.

enquanto o equilíbrio educa
a alma, enquanto a cuca se
infiltra nos cheiros, enquanto
a vida é sangue e gozo, fôlego.

enquanto o fogo é bicho solto,
enquanto foge uma multidão,
sapatos incendiados, enquanto
os abraços fazem nascer florestas.
coincidência:
com isso dance,
insert coin!

terça-feira, 16 de julho de 2013

sexta-feira, 12 de julho de 2013

monkey

a monkey:
amo(r) ---
------ key.

ogro sapiens

batendo a cabeça contra o tronco
da árvore mais próxima.

papo macaco com cupins,
disputa de gritos, mais braços
que shiva para matar mosquitos.

poucos dentes, muitos doentes.
por vezes, não conhece o que é bom.
quase não esquece de si e se perde
entre o depois, o durante e o antes
e seus desodorantes são da baygon.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

um banjo

o que você quer?,
ela perguntou.

te ajudar a rir,
a gozar e a ficar
bem, eu disse.

e rimos, gozamos
e ficamos bem.

sem compromisso,
ela comentou. com
improviso, eu combinei.

a noite chegou
e as pernas dela
foram para longe.

e eu, bem, eu
dormi feito um banjo.

aurora

aurora é uma rua,
aurora é uma senhora
que serve café de graça
para os bêbados, pela manhã.

aurora é uma cigana,
aurora é uma coletora
de frutas e raízes e sonhos,
aurora é uma deusa.

aurora é uma arte marcial,
aurora é agora e sempre,
aurora é uma oração.

aurora é uma música,
aurora é uma viagem,
aurora é uma sacanagem
entre o sol e a lua, escuridão
quase pelo avesso, quasar.

aurora é uma passagem
para a origem dos tempos.

terça-feira, 9 de julho de 2013

rodeados da bem-aventurança do Grande Mistério

não há cadeados para o afeto, a respiração segue
envolvendo a montanha e os ciclos lunares. ergue
os olhos e vê os vultos das plantas professoras,
árvores ensinando em silêncio, cio lento da seiva.

vai, seja a poeira e os pés, pêndulos pendurados
no teto do mundo, oscilando entre o riso e o choro.
mastiga as flores e as raízes, escapa das tocas
do egoísmo: há sabedoria selvagem no encontro.

almas incendiadas se olham longamente, riem
enquanto amanhece, enroscam mãos e pernas,
beijam os pés, as costas, os antebraços, línguas
andam na origem do mundo em seus corpos nus.

águas cristalinas nas retinas, breu da voz na garganta:
gemidos, sussurros, posições das estrelas do fogo.
aurora e abertura da aventura. ciclistas que furam
os bloqueios e fluem por lugares sem nome, sonham.

carvão e car vão

tem o carvão
e tem o car
vão.

respiro e canto

saudação da chuva sobre meus cabelos:
eu respiro e canto a divindade interior
e respiro e canto as divindades na teia do planeta.

sol e lua, leões comendo as papoulas da primavera.
o cansaço não estará nos esperando após o despertar.
a manhã é uma benção e as estrelas são buracos
no chão do paraíso, pássaros que nos carregam no ar.

alegria rodopiante de milhões de crianças, krishna
tocando flauta madrugada adentro: cavalgaremos
os tigres envolvidos nas potências da energia criativa.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

bilhete estelar do iogue

senso de humor
deliciosamente tolo
vale bem mais que ouro,
eu sei e sinto e sigo.

foi um iogue
que me disse,
catando um bilhete
nas estrelas:

o riso não envelhece,
tolices são preces
infantis e loucas
e bêbadas.

absurdo, poeira
no umbigo: dentes
de orelha a orelha
tirando as telhas
da razão. velhas
rindo na tempestade
sem nenhuma saudade
do ego, do abrigo.

domingo, 7 de julho de 2013

leão na lua

há um leão na lua,
vejo a olho nu.

caminha lentamente
como se soubesse
para onde vai, mas
não sabe.

urra para não errar.
o dia e seu sangue
amanhecem.

bebe água no rio,
sim, existe água na lua.

tem medo, mas desde cedo
sabe que o medo é um inseto
que faz barulho voando perto
dos ouvidos, mas não sabe nadar.

então, o leão mergulha na água.

escambo

troco todos
os joguinhos
do meu ego
por peças
coloridas
de lego.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

ferver

ferver, forever,
sem frivolidades.

rodopiar para longe
dos mapas das cidades.

queimar calcinhas e cuecas,
queimar, decididamente, as cucas.

subir as montanhas, dedicar
nove canções para as manhas
da natação dos jacarés, os pés
batendo no chão fazendo tremer
os mundos vermelhos de todo coração.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

lua no céu da manhã

chove e eu
sou um lobo.

estou vivo
e uivo.

a água
sabe todos
os meus segredos

e o sorriso que vejo
é a lua no céu da manhã.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

em silêncio, como
se fôssemos desconhecidos.
mas, então, a voz dela
em meus ouvidos:

tudo bom?
tudo bem, eu disse.

mas queria contar
uma piada para
que ela risse
e assim eu visse
o sorriso dela.

(sutil detalhe que a deixa
ainda mais bela)

em silêncio, novamente.
mundo estranho, animais
enterrados nos umbigos.

há vários futuros, possíveis,
de muitos tamanhos, artimanhas,
diversas manhãs. num amanhecer
ela sorri e está junto de mim.

noutros sequer há retratos.
apenas os tragos num quarto
escuro, cheirando a vinho:
o que não voa no ninho.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

arquivo cósmico do coelho mágico:
terapia lunar da mística pantera:
hidroginástica no útero sagrado:
levitação magnética ancestral:
peixes, crocodilos, cavalos:
rãs, patos, onças, crianças:
vegetação, cantos das nove
mulheres nuas, noites nuas.
ânimo, animal anônimo.
bem-vinda sejas, minha
louca inocente, a noite
dorme no colo da mãe.

no ventre da floresta
a lua desenha marés
de vida e morte e vida,
sopros dos ciclos das
ressurreições, sangue
que inunda o tempo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Senhora das Coisas Selvagens

nove horas mascando raízes e folhas
e ouvindo a sabedoria dos fungos.

inspiração? uns vapores que sobem
pelas narinas quando mastigamos
alguns cogumelos.

dançando ao redor da fogueira a noite
inteira, antenas do espaço vibrando nos
músculos, mentes surfando no cinema
do Templo das Mães Ácidas.

curiosas corujas sobre os ombros,
mugidos das vacas e didgeridoos,
sombras que sobem até os céus
e se enfiam como sementes na terra.

alfabeto das árvores, multidão de vozes
nas vizinhanças dos grunhidos e urros.
beleza do êxtase azul que se espalha
no chão das almas cobertas de papoulas.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

zeus está morto.

eu fui o que aprendeu
com árvores e rochas:
lábios não dizem
a idade do céu.

eu fui o que deixou
pelos bolsos as ametistas,
pedras do vinho.

eu fui o que ficou
embriagado pelas auroras.

eu fui o que retornou
para casa carregado
pelos ventos.

domingo, 23 de junho de 2013

e dizem
que os jambos
mais suculentos
estão nos cemitérios
cujas árvores deitam
suas raízes até a boca
de cada cadáver.
chave de fenda,
lenda da chuva.
shiva na senda,
tenda da saúva.
não tenho palavras
para os pensamentos
dos pássaros, sonho
através das fogueiras.

os viajantes não retornam
e dormem nos ventres
das serpentes.

trovões entrevistam
hienas alegres, incubam
nas barrigas dos malabaristas
as escadas dos ventos, folhas
da árvore do abismo celeste.
minha cabeça
é um animal
feito em pedaços
por mulheres
delirantes
pelos sons
da montanha
de fumaça
e cogumelos.

sábado, 22 de junho de 2013

nunca vi um corvo, nunca.
pernas inventam caminhos,
as curvas. os braços não
descansam, cavam covas.

cibele, deusa-leoa, toca
harpa e alimenta harpias:
música da urgência das orgias.

gregor samsa ainda sonha
com birutas indicando
passeios dos quatro ventos.

tigelas dos monges mendicantes
cheias de arroz e silêncio.

há um sofá, perto da árvore.
em noite de lua, milarepa
esquece a vingança e lança
canções no ar para as formigas.

pela manhã, de três sendas,
uma é certa: o profeta
amanheceu morto, louco
ou se tornou poeta.

varrendo a vizinhança das estrelas mais próximas

balão é o nome do peixe, peixe é o nome da gata,
gata é o nome do vento, vento é o nome do cavalo,
cavalo é o nome da luta, luta é o nome do sonho,
sonho é o nome do corpo, corpo é o nome da criação,
criação é o nome da vaca, vaca é o nome do sítio,
sítio é o nome da manhã, manhã é o nome do pássaro,
pássaro é o nome do besouro, besouro é o nome do mel,
mel é o nome da música, música é o nome da alma,
alma é o nome da fome, fome é o nome do delírio,
delírio é o nome do ônibus, ônibus é o nome do começo,
começo é o nome do dia, dia é o nome da memória,
memória é o nome da loucura, loucura é o nome da dança,
dança é o nome da fé, fé é o nome do estômago,
estômago é o nome da rã, rã é o nome do silêncio,
silêncio é o nome da noite, noite é o nome da mudança,
mudança é o nome do sal, sal é o nome do bilhete,
bilhete é o nome do vinagre, vinagre é o nome do céu,
céu é o nome da invenção, invenção é o nome do osso,
osso é o nome do macaco, macaco é o nome do amor,
amor é o nome da rua, rua é o nome do universo,
universo é o nome da cozinha, cozinha é o nome da canção,
canção é o nome da liberdade, liberdade é o nome da puta,
puta é o nome do agricultor, agricultor é o nome do chão,
chão é o nome da cidade, cidade é o nome do gari,
gari é o nome do movimento, movimento é o nome do presente,
presente é o nome do balão, balão é o nome do peixe, peixe,
peixe, peixe, gata, gata, gata e todo o lixo espalhado agora
dentro do caminhão verde que mastiga, mastiga, mastiga
rumina, rumina e transforma num chorume cósmico
todos os nomes que a vassoura alcança enquanto.
a cabeça aérea, não há teto,
há estrelas sobre os ombros.
os vaga-lumes ninjas do afeto,
pés e coração entre escombros.

dentes do presente no pescoço,
lençóis de veludo sobre a cama.
pólvora que carrego no meu osso,
sem soníferos, virá a que me ama.
medita, macaco, medita
e pratica o primeiro amor.
se algum idiota te irrita
pratica o nonsense, humor.

medita, macaco, medita
mergulha no olho da flor.
anda por aí pelado e evita
o orgulho, avareza, rancor.

medita, macaco, medita
na mordida, disco voador.
ferve teu sangue e acredita
no afeto, no afago aonde for.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

rasgar, romper, ferir
as ideias confortáveis.
pensamentos ao ar livre,
balbucios, gagueiras, gritos.

poema feito a partir do sangue
que segue a gravidade e corre
do joelho para o chão, como chuva
que se joga dos joelhos celestes.

sensações carregadas, ações
escorregadias sobre o lodo
que se acumula debaixo dos
pés de nossos hábitos diurnos:
a flor de lótus nascerá.

um coice do poema no peito
desavisado e o mundo será
menos inocente e o leitor
hipócrita, quem sabe,
deixará de ser um futuro
carrasco da humanidade.
podem me deixar naquele asteroide
enquanto o vento sopra as vacas
numa tarde molenga, enquanto
me invade um desejo repentino
e imprescindível de uivar e ouvir
as frutas tagarelando sobre a morte.

podem me deixar naquele vulcão
enquanto os cigarros estão acesos
nos bicos dos pássaros, enquanto
me informo sobre a última corrida
dos unicórnios e os vinhos baratos
colorem as cuspidas dos profetas.

podem me deixar naquele abrigo
nuclear revestido pelas carapaças
das baratas, enquanto as formigas
me trazem jornais com tirinhas do
laerte, bagos de uva verde, enquanto
observo um robô mágico e barbudo
derrubando grades de cerveja no espaço.

quase miro no breu

ah, como tenho saudade
das lambidas da aurora.
os átomos das lembranças
provocam choques agora.

à sombra, num tapete no quintal,
eu a chupava e chupava manga,
ela chupava e lambia meu pau.

língua de sabedoria selvagem
e sensível, fazia malabares
com o imprevisível. dos pés
à nuca, nunca esqueceu:
mensagens elétricas,
massagens secretas,
histórias eróticas.

sempre perdíamos a hora
do trabalho, enquanto ela
cavalgava em meu caralho.

gostávamos da luz da lua.
eu pelado, ela nua,
dois espíritos animais
inundados por ancestrais.

gastávamos as fibras do dia.
eu urrava, ela ria,
dois incêndios cósmicos
narrados por mímicos.

ah, como tenho saudade
das lambidas da aurora.
entre a multidão e a maldade
o cheiro de manga me devora.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

poema sem título a partir de conversa com Lizandra Santos

o amor é grão, poeira,
cisco nos olhos, madeira
pegando fogo onde crianças
acendem as bombas de são joão.

vou fazer um barulho fantasma,
assustar o amor pelos ares
e torcer por outras eras
em que o amor viva
mais que aos pares.

terça-feira, 4 de junho de 2013

furacões passeando pelo ferro-velho,
rinocerontes bêbados de vinho tinto,
diamantes largados nas calçadas
por dias e dias e dias até serem
varridos pela chuva para o esgoto.

os filhos do ciclope bebendo chope
na esquina do jardim das delícias.

pianos, sanfonas, águias velozes
rompendo as couraças e as barrigas
das cidades fantasmas do amor.

uma guitarra na fogueira, moedas
voando, mancos pedindo cigarro
para todos os faróis dos carros.

sangue das vacas nas ruas de lama,
pombos pensativos, vitrolas vazias
do velho e gordo sol, sombras das
potências escondidas no grão, no
grou, no guru com gengivas azuis.
a eternidade é um longo cochilo,
papo de zappa com isaías,
corações dos tigres
devorados pelas
papoulas.

a eternidade é um longo cochilo,
disfarce do lobo trapaceiro,
nenhum nervosismo
dos amantes
no frio.

a eternidade é um longo cochilo,
acaso feliz & ajuda mútua,
moitas para as orgias
dos primatas
surpresos.

a eternidade é um longo cochilo,
húmus das árvores lunares,
massagem e respiração
aliviada no banho
com as águas
quentes.

mel & gafanhotos na noite deserta

e assim foi, disse.

eu vi, ouvi, revirei
os ossos entre as
cinzas da fogueira.

nove dias com a febre,
nove noites com a lebre.

a velha e o corvo, água
correndo, curva do rio.

eu vi, ouvi, revivi o fogo
enterrado no ventre do
animal de sangue quente.

mãe de mistérios, terra
da colheita do amor, nus
os olhos do vento, asas.

apesar de casado com
a filha caçula do sol,
pesava na barriga
uma lua pequenina.

a árvore não morre,
o urro do coiote é azul.

e assim foi, disse.
e voltou a nascer.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

equívocos maravilhosos

a tarde de marduk
com o leopardo.

a passagem de volta
da mão de kishar.

a audácia de javalis
com a cachaça.

a leitura do tao
da mímica.

ridendo castigat mores

ah, coração, que engano.
não me diga que nada
arrebenta a hipocrisia
e o aço.

pois minha irmãzinha sorri,
sem briga, sem embaraço.
apronta as tintas e tonta
diz: palhaço.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

não, não sou simpático
a nenhuma supremacia.

gosto do território tático
da pele dela super macia.
sensações, sensações:
que os sons nunca cessem.

sanda, sendas, sondas.

ondas que o duende compreende
calmo na cama de lama de sua alma.
a lua anda
comigo.

crescente,
cheia, nova,
minguante.

a lua, um abrigo.
irrigo devaneios,
no bingo não brigo.

numa de suas crateras,
esqueço meu umbigo.
usamos telepatia, mas
vez ou outra ainda ligo.

no dia que perguntei: qual
o número de teu céu, lua?
ela disse, e ainda falou: I go, contigo.
você cometeu harakiri e o show
ainda não chegou na metade.
teus amigos fodem cabras,
fabricam uísque, usam máscaras
de jorge ben 10. talvez seja
tempo de passear num carrossel,
visitar a república tcheca, deitar
no gramado nos ombros de tua irmã.

explosão nas trevas

clarão de afetos sábios,
grandes e pequenos lábios:
com mamífera no chão de casa.

brasa donde bebo, longo amor
que sinto. não nos falta pernas,
almas, tonéis de vinho tinto.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

aurora & loucura,
canções de cura
a toda hora.

o passado é presente.
o futuro, um gigante:

dorme demente,
um anão entre
carvão e diamante.
passos lentos, botas velhas.
deambular, pouco labor.
sabor do vento, pétalas.
pupilas & pontes, amor.

atravessarei como ubu rei:

a travessa maravilha tristeza,
a rua da música aquática,
a avenida sol da escuridão,
a praça claridade enigmática.

terça-feira, 21 de maio de 2013

os poemas de daniil kharms
quebraram a vidraça.

o poeta, com razão louca
e coração banguelo, soprou
orações para as hienas.

stalin & seu bigode
jogaram o poeta na prisão.

o bigode faminto de stalin,
ensopado de sangue, devorou
o poeta até a carcaça,

mas nunca encontrou
os sonhos e devaneios
que hoje dão passeios
pelos ares de moscou

e que as moscas,
como se bêbadas
de cachaça, fazendo
arruaça e com piruetas,
espalharam pelos planetas.

ray charles chaplin

cego e mudo,
louco. pouco
a pouco, tudo
inundo, como
vagabundo
amoroso,
fervoroso
com música,
gesto, gozo.
nove profetas
abrigados
nas montanhas

mamando
nas tetas
de cabras
cósmicas

munindo
as teias
de vermelhas
aranhas

nove profetas
acompanhados
das onças

deambulando,
dançando
de mudança

pois sempre
jogam pedras
as crianças.

domingo, 19 de maio de 2013

o instante existe.
por que eu canto?
sou alegre, sou triste:
um pateta.

tenho febre, fobias,
não tenho neta.

alice me disse
para esquecer das palavras.

falou também da folia
e logo ficou muda, ficou
louca e beijou minha boca.

estive quieto, estive
agitado, alma vermelha
feito brasa.

alice com os olhos
me disse:

o silêncio é um colchão
no telhado de casa.
o instante gira
qual dervixe extasiado.
não conhece futuro, passado.
apenas inspira, respira.

não rumina o antes,
não mastiga o depois.
não dá nome aos bois,
nem relembra cervantes.

o instante grita, se agita
no peito, ilumina qualquer gruta.

o instante é uma fruta
que comemos com respeito,
sem medo.

o instante é um presente,
uma dádiva, um vagalume
que se enche de luz e escurece.

vê se não esquece:
o instante é mutante.

amar(temática)

preciso de duas
mulheres para uma
homenagem a três.
gerusa carregou-me
para a nau dos loucos.

aos poucos, com que encanto,
jogou longe saia, sapatos, juízos.

debaixo da blusa, tatuada
entre os seios, ela tinha
uma medusa.

por um triz, quase
virei pedra. não
cheguei a tal,
virei pau.

o lavador de pratos

nunca o vi trabalhar
sem assobios.

ria praticamente
de qualquer coisa,
principalmente
de pratos que caíam.

tinha medo de trovão,
não temia nenhum patrão.

sempre sincero
como sabão e água.

estava juntando
duzentos reais
para uma passagem
para o maranhão.

ontem me disse,
ouvi a história mudo:

gastou tudo com chocolates,
queijos e vinhos. foram nove
horas com a loira vizinha
que nada sabia de cozinha.
e de repente
eu era uma formiga
na barriga de uma deusa.

noutro instante
era um elefante nas nuvens.

só então
me transformei num gnomo,
atômico e belo, seguindo
para o cume de um cogumelo.

estranhas entranhas do acaso

uma pedra, uma hidra
um casulo, um casaco.

a flor, o cavalo, asas.
serpentes, pontes, pinturas.

um centauro, um sentinela
uma floresta, uma sombra.

um samba, um jambo
um mambo, uma manga.

monges, ninjas, poetas,
profetas, ciclistas, iogues.

bilhetes da deusa e do mendigo
no umbigo do ocaso.

hastes das ervas, desenhos
nas trevas das cavernas.

mandíbulas das nebulosas,
nuvens, insetos, patos, potes
de ouro perdidos nas íris
das multidões solitárias
e silenciosas.

amor & água

a dor ensina
um macaco cabeçudo.

o punho cerrado do cosmo
guarda um bom cascudo.

fiquei mudo, tive medo
de partir cedo
pela estrada de estrelas.

hoje rio, rio, rio.

o coração bate, late.
é um iate navegando
no sangue e no fogo.

riso franco, pupila amena,
aquele esquema:

não há problema
gigante no universo
se há peito aberto,
sem mágoa:

tudo flui,
pra lá e pra cá,
amor & água.

prosa do umbigo (16h20)

essa febre, essa febre.
garganta inflamada.
sou teimoso, nervoso.

minha mãe com enxaqueca,
segui com ela, febril, para
a emergência. depois foi
minha vez. a médica
nem me olhou no olhos.
um xamã chora pela falta
de sensibilidade e afeto.

em casa, à noite, suor frio,
peso, dor, sufoco, agonia no peito.
falo sinceramente com krsna que dança,
jesus sorridente, buda da compaixão.
sempre tive medo de meu coração.

acordo bem, até vomitar, ficar pálido,
lavado de uma cachoeira terrível e triste
de meu próprio corpo dolorido, aviso.

com braços dormentes, eletrocardiograma
esquisito, enzima cardíaca cem vezes além
do que convém, choro, medo, oração feita
na hora pela melhora do corpo e d'alma:

"cuida de mim, mamãe terra.
cuida de mim, papai sol.
beijem meu rosto calmamente.
perfuma minha mente, girassol."

eu de pé, com fé, fazendo piada
sobre alienígenas e mistérios da ciência,
estava ali, infartado. meu espanto,
espanto dos médicos com seus olhos
assustados para o sujeito risonho
dizendo que jogaria futebol
e daria cambalhota.

cateterismo feito, chegou a vez
da mente descansar dos saltos
do peito, a mente feito vespa
assustada, mãos agarradas
nas mãos de minha mãe amada.

apredizado da paciência, foi
preciso aguardar o ecocardiograma.
um dia, dois, três, o medo, quatro, cinco.
o silêncio, o conforto materno, o silêncio,
o mantra repetido baixinho, um ninho
de passarinho azul batendo, batendo, batendo.

gel no peito, sala fria, pessoas quentes
e bondosas. desta vez, médicos e enfermeiras
parentes de pajés e xamãs: me olhavam
nos olhos, sabiam meu nome, construiam
pontes de energia de compaixão, torcida,
fé, almas caridosas trabalhando muito além
dos níqueis do cassino. eu, coração ameno
desde menino, novamente menino, misturando
medo e esperança, querendo escrever e cantar,
dançar na chuva feito criança novamente nascida.

vi meu coração em preto & branco,
como um bebê no ventre da mãe.
forte, movimentado como um oceano
cheio de doce ímpeto, perto do esperto
cenário da energia bondosa, vida nova.

o tempo inteiro, a cabeça atenta, ativa.
não foi gordura, sendentarismo, ou qualquer
coisa parecida. a cannabis sativa me levou
pra muitas viagens, mas desta vez foi uma
passagem para uma morte ritual: infarto.
este foi meu novo parto, novo nascimento.
pensamento voando no firmamente, singrando
por nove céus, descendo fundo nas raízes das árvores.

infarto, parto, passagem, ritual.
uma viagem em que fui e voltei.
para andar no caminho do bem,
para ficar zen, para sorrir e chorar
para corar e pintar o mundo com
piadas e poemas, sem receio de problemas.

tudo é grão, tudo é grão. somos um.
eu continuo por aqui, comendo cajá,
acerola, carambola, jambo, caqui.

no sangue da terra viva, me movo.
meu sangue se mistura ao cosmos.

nasci de novo, agora.

definitivamente um macaco
doido e feliz movido
por amor & água.

gratidão, gratidão.
pois o primeiro
mágico é o amor
atraindo os seres
uns na direção
dos outros:

virtude oculta
atravessando
oceanos.
quando os meus olhos fecho
deixo acesa a águia bebendo
água na curva ensolarada
da minha alma: não pergunto
pela origem, pela vertigem,
nem me importa o desfecho.

travessia, mudança na dentição,
itinerário despreocupado com
o horário em que a águia
cospe fogo no coração.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

magnetismo animal

palavras, palavras, palavras.
que eu fuja deste mar e o ar
se tornará mais leve, breve
instante antes da subida.

giramos pela noite com o fogo
roendo nossos calcanhares.

há uma ponte cuja aparição depende
do silêncio e do cio e se estende numa
terra sem perguntas, sem respostas,
amparada nas costas de uma imensa
tartaruga erótica.

confusão sexual & estômago, cabelos
bagunçados pelo vento e pelo tempo.
estar perto, dentro da polpa da fruta,
boca aberta como gruta de aventuras.

afasia, respiração ofegante, nervosa.
a dança que a loba inventa e invade
as florestas mais verdes, conexões
e notícias do pensamento alagado
do sangue doce da tempestade.

olhar sincero, vísceras e vícios
na ponta da língua, deserto
donde surgem as sementes
que germinam dentro
de nossos umbigos.
vagarosamente:

vaga
rosa
mente.

equilíbrio

empilhando pedras
no coração, soprando
plantas na noite nua,
lembrando da lua
ao alcance da mão.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

um porto, um mapa.

sem capa de chuva,
sem cama, no chão.

num colchão, telhado,
de lado, alados, atados.

respirando, indo, tão.
gratuidade infinita da comunhão,
bom senso do monge nu, senhor
cego que pratica tai chi, gnu ágil
trazendo de longe chá e incenso
enquanto bebe suco de limão.
tímido, beijei seu nariz. com
o sorriso dela não fico sozinho,
ouço o que a noite de chuva diz
e tomo uma garrafa de vinho.
e aprender uns truques
de facas, sair de rolê
com as focas, apaziguar
os garotos e as betas,
ouvir o que dizem
minhas botas.

terça-feira, 16 de abril de 2013

sê louca por inteiro, esqueça o dinheiro,
toque fogo nos bilhetes das loterias.
arrume um mergulho, sinta orgulho
de nadar e do nada, dê gargalhada.
colocar os pés no mundo
e a fé no coração de carne
do sonho de um segundo.
carregar latões de óleo,
lavar pratos, operar
máquina de fotocópias.

que a alma encontre
em todos os lugares
o que a ultrapassa.

que a pressa não
seja mais presente
que o sorriso demente.
evidente felicidade
da respiração, movimento
dos músculos, devaneios.

não há deserdados
do supremo amor, do sopro
do vento que varre a medula.

música da luz lilás,
água e dia áereo do sangue.
ela diz: deixa estar,
num jantar eu esmago
grandes ameixas.

eu digo: vagalumes ficam
girando em minha cabeça.

talvez seja fome, outro nome
para coração na neblina.

não sei muito bem de nada,
mas quero rever esta menina.
será que ela vem, dopamina?
ameixas secas, água
gelada. nenhuma briga
com a urtiga. algumas
éguas dormem nas gavetas
das meias coloridas.
abandonar a tosse
e as repetições acrobáticas
de ideias estacionadas.

um caminhão de mudanças
leva para o cemitério as roupas
dos ossos, caixas abarrotadas
com as cinzas dos livros
escritos com sangue.

garras dos carcarás carregando
a escuridão pelo ar, energia
da planta com raízes nos
cérebros dos macacos.
ainda dou ouvidos
a esta voz, esta noz
chamada ego.

não compreendo,
mas ouço noite & dia
estes pensamentos dançarinos
feito abelhas perturbadas pelo fogo.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

biografia de minha neta imaginária

aprendeu logo cedo
a entender o que o açude diz.
o nariz fareja a mais longínqua cereja.
desde nascença sabe a diferença entre o silêncio
e o silêncio. tem muitas cicatrizes, mas nenhum traço
de rancor, raiva, ânsia. descansa a cabeça sobre um
travesseiro de hortênsias. também é míope, não mente,
mastiga lentamente frutas e folhas. traduz os trovões
para um sabiá, caminha ao léu, segue para o céu a pé,
com fé e chá.

sábado, 30 de março de 2013

querida mamífera,
tudo continua como antes:
me perco em teu umbigo
e não procuro diamantes.
cuca fresca, sem grilo.
o mundo amanhece
no cochilo tranquilo
do esquilo.
sossegado
no útero
do azul-escuro,
severino escreve.
lua cheia
entre prédios
vazios.
surpresa de uva, vulva
da musa inebriada,
uma madrugada entre
cio e silêncio, cacos
de afeto e pensamento.

ele disse: ontem eu
nem te abraçava e
hoje quero fodê-la
novamente, entre
as estrelas.
gratidão, um grilo
trouxe uma canção
sobre a força do sol
e da lua. olhando para
o amor no pulmão da
tangerina, um golfinho
cuspiu ditirambos e safiras.

assim contaram duas hienas
para as tartarugas e as antenas.
fico na janela
olhando o vento
e logo nos olhos:

milágrimas, milagres.

bagres milenares
contando anedotas
em meus ouvidos.

sexta-feira, 22 de março de 2013

quadrilha, outra vez

joe amava tirésias que amava ramona
que amava marion que amava juquinha que amava lulu
que não amava ninguém.

joe foi para as ilhas salomão, tirésias para o cassino,
ramona nasceu de novo, marion virou paraquedista,
juquinha ficou em silêncio e lulu casou com Z. Pedro Franco
que não tinha entrado na histeria.
mudar os planos & os pulmões,
a acerola nos lábios e os sábios
conselhos do rio, o pio da noite
assobiando entre os seios das
açucenas, as pequenas auroras
nas horas mais improváveis,
as possíveis dobras do tempo,
as canções de ninar o vento,
visões do vazio & sublime
acordeão aceso nas asas
do fogo, sombras dos raios,
corações & sementes de tocaia.

terça-feira, 19 de março de 2013

estamos nus & perdemos dentes,
alguns pássaros pousam nos ombros.
muitas águas correm no peito, tempestade
de coices dos cavalos, imaginação das harpias.

a grama permanece verde, espírito
da mulher que ri com o canto da formiga.
atenção & tesão & o macaco que mergulha
no tanque de suco de laranja aos pés da montanha.

idiotas batendo boca contra os lírios, levitação
do rinoceronte que engole a cabana, cobertura
de chocolate no olho da feiticeira, cabeleira
do mágico subindo entre árvores até o céu.
anicca & ananda

nada me falta pois nada quero,
as mãos em concha para beber.
ossos jogados das mesas, tigelas
e colheradas de bem-aventurança.

cloro da piscina e gene da máquina
incompreendidos entre os borrões
da aurora, melodia da água correndo
feito égua selvagem no cio, no bordel
(do tempo).

boas notícias e ambulâncias a quarenta
milhas do sol, grão do ego empoeirando
a superfície do espelho da mente vazia,
peles e estilhaços do êxtase das papoulas.
improviso sujeito a escoriações

paciência & percepção tática,
mandíbula treinada no ártico,
alma curiosa do pássaro
atento ao ataque cardíaco,
bebendo um gole de absinto
com um personagem da ilíada.

delírio aquecido & acentuado
pelo jejum, confiança na onça.
mágico com saudade da aurora
e das araras, pedaços da noite
negra grudados nas gengivas,
danças de fogo & sombra.
a senda é clara: haverá sorriso
num domingo com chuva se
a alma perceber a rara conexão
ancestral entre a respiração do afeto,
o peito nu e aberto e os pés no teto
do carinho transcendental.

segunda-feira, 11 de março de 2013

ataraxia

hibernar na barriga da égua,
sem medo. jonas trouxe baralho
e passaremos o inverno jogando pôquer,
respirando lentamente, bebendo muita água.

não há mistério no ventre do caos, no esqueleto
das plantas, no planeta subterrâneo das formigas.

os dentes desconhecem as fronteiras
entre o sonho e a carne. há vinho passeando
na medula dos jardins, há cupins desenhando as bocas
das vacas enormes, há uniformes pendurados no vendaval.

um banquete de ossos, um milagre no fundo do poço,
alguns bagres voando alto colina acima, a cisma da noz
contra o silêncio, o cio dos neurônios e das pálpebras.

lucidez despreocupada do afeto, suor, deriva tranquila
debaixo do sol. percepções do estômago e suas vozes,
olhares quietos, felicidade confiante na carcaça do tempo.

porque o minuto é esquisitamente suave
samurais e alquimistas jogam futebol

ninjas andam nus e mancos
nos flancos dos cabelos do sol

tamanduás e formigas fazem carícias
nas barrigas das dançarinas egipcías

casas incendiadas e cores perdidas
enchem os bolsos das cigarras

memórias levantam voo
sem ferir os joelhos, por exemplo.
éris me trouxe aqui
para comer cajá e caqui
despreocupado, aquário
da cabeça sem peixes
azuis e vermelhos, espelhos
cobertos de musgos, sem mágoas.

éris me trouxe aqui
para construir canoas, observar
orquídeas e fungos, alma
limpa pela chuva, sem receio
da curva, morrer à míngua.

éris me trouxe aqui
para rir com ísis & osíris,
catar estrelas nos olhos de hórus,
língua séculos lambendo sapos e clitóris.
respirações tranquilas
respirações ofegantes
escrevo poemas
como quem prefere
carvões a diamantes.

que o olho desfrute do céu
como abutre e o ouvido
esteja atento ao raciocínio
lento da casca na conversa
com o universo e o esqueleto
do ego seja desmembrado, disperso
sobre as brasas e as asas de lama
misturem a alma do azul com o chão
e o coração se esfregue na árvore
que educa e a nuca esqueça o colchão.

coração fechado
pra balanço
na rede.

mente aberta
como planta
com sede.
a lua é o primeiro morto,
pólen da viagem, repouso,
flor no estômago da noite.
 
a lua é uma lanterna
dos aliens, jardim sonoro,
seiva das marés, nossa
saliva, suor & sangue. 
 
abolição da forma,
desaparecimento,
crânios arrebentados
pelos batuques.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

casaco verde do acaso,
alguns dentes quebrados
nos bolsos, os ossos de aves
e pequenas naves chinesas.

desejo e extinção do desejo,
trevas, tempestades, ventania,
rebanhos de grãos de areia
contra as retinas fatigadas.

pernas queimadas, barriga
cheia de sonhos, senhas
escritas com saliva, selva
da mente picada por vespa.
águas turvas,
curvas de mágoas,
mandrágoras cuspindo
nos olhos das capivaras.

demência,
asa lilás.

carvão
debaixo da língua:
roubamos o fogo
dos leões & chacais.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ela apareceu como um raio,
rio e refez a respiração.

tinha pupilas de tamanhos
desiguais.

dizia canções, calmamente,
como quem descobre nos bolsos
de um vestido florido
a aurora.
preocupações estúpidas,
estranhas ocupações.
vértebras esmagadas
pelo sopro solar.

um homem de vidro
carrega nove pássaros
presos em suas claras
clavículas. seus cabelos
alertam sobre explosões
e chuvas de tijolos.

há um disco voador no pátio
da escola abandonada.
a língua lilás do elefante,
o tumulto de mosquitos
roubando a oferenda e
o incenso, vespas voando
alto no coração do dia.


com os dentes rasgar
a aurora, o dia que nasce
nas costas do tigre. uma
tartaruga cega ditando
poemas de amor e gentileza
para os rudes mecânicos
do absoluto, via clandestina
da visão da choupana sensível
escondida no breu do afeto.
há um lírio
no olho
da rã.

pode olhar
amanhã.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

camundongos, caramujos,
marujos de porre,
dias longos.

pupilas insensatas
cobertas pelas pálpebras
do amanhã.
 

a cãibra, o rum,
perder o rumo,
o câmbio de sonhos
e socos.
 

piadas baratas, fogueiras,
as bundas das freiras
desenhadas nas bandeiras
dos navios piratas
multiplicação infinita
do sossego.

uma vaca estelar
lambe meu esqueleto.

entre os dentes
a pérola do imprevisível.

lentidão do sonho

do lêmure sobre o fêmur.

gastronomia combinada

por telepatia.
 

loteria celeste
da viagem no tempo.

gigante utópico

desenhando esconderijos.
respiração
do cheiro
da tangerina.

um gomo
na palma
da mão
me lembra
um pulmão.

domingo, 13 de janeiro de 2013

vasto ócio
do ópio, ódio
apaziguado
pelo haxixe.

fico séculos
me divertindo
vendo besouros
e nunca fui
num boliche.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

bondade simples
da criança que cobre
com sombras a atividade
sorridente do caos.

assobios e gesto lento
do músico búlgaro
consertando a bicicleta
verde no cais.

carcará e formigas
na fila da sopa,
enquanto o navio
descarrega pólvora
nos ouvidos de caim.

debaixo das barbas de bachelard

o fogo é um animal
de sangue frio.

o rio é uma fruta
coberta de lodo.

o iodo é uma vegetal
na barriga da gruta.

***

disse-me uma cotovia:
voamos em sonho
quando somos felizes.

troca de casais

leão na cama
da camaleoa
e a leoa com
o camaleão.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

dobras de huidobro

amor e paciência,
o horizonte é um rinoceronte.
há migalhas de pão no bolso
do casaco do louco e um pouco
de sabão pra lavar a barba.

um sol nasce na pupila esquerda
e eu seguro a lua entre os dentes.

a morte que morde as entranhas
dorme tranquila na calçada.
apenas nove dúvidas espantosas
debaixo dos cabelos longos
da mulher que amo na grande viagem.

paraquedistas incendiados
ordenham as estrelas da boca do céu.

sementes abertas pelo olhar
caem no útero. a gigante
sorri ternamente e então começa
o combate singular do coração
comendo rosas e brócolis.

a alma é uma tesoura enferrujada
que repousa na voz de hiena
do inverno, sombra que uiva.
perdi
as chaves
de casa
e as asas
no último banho
de chuva
ácida.

profecia e uísque,
cabras comendo
a grama
da minha mente.

você
esquecerá meu nome,
ela disse. e assim foi.

mas ela não foi
embora da minha
cabeça.

amanhã lá na pracinha

no começo da busca
audição atenta
aos assobios
das árvores
mais curiosas.

o céu é lâmina.

ainda não conheço
a mãe de meus filhos.





caminhão carregado de mordida
e dinamites, mitos dinâmicos,
feridas abertas nas testas
dos titãs.

comunhão, corre gado
no mar doido e nas dunas,
farpas queridas das trevas
do tutano.

ouço histórias de amor,
conto histórias alienígenas.

as vibrações doidas e azuis
que cobrem de plantas sorridentes
a atividade do caos.

desastrosa esperança
que anda trôpega
no coração infernal
da luz.

trincheiras nas estradas
para casa. braços guardados
no casaco da nona guerra
pela noz e pelo diamante.

sangue encharcando
as cordas vocais da fumaça.

mergulho na pupila calma
de um bilhão de lugares
de chuva psíquica e doce
deslocamento no dorso
das fontes de energias
deliciosas.
os vizinhos ouvem
sun ra enquanto
fazem orações
para os ovnis.

não há musgo
na boca da pedra.

hálito sideral
que massageia
as lembranças
de pangéia.