sábado, 30 de março de 2013

querida mamífera,
tudo continua como antes:
me perco em teu umbigo
e não procuro diamantes.
cuca fresca, sem grilo.
o mundo amanhece
no cochilo tranquilo
do esquilo.
sossegado
no útero
do azul-escuro,
severino escreve.
lua cheia
entre prédios
vazios.
surpresa de uva, vulva
da musa inebriada,
uma madrugada entre
cio e silêncio, cacos
de afeto e pensamento.

ele disse: ontem eu
nem te abraçava e
hoje quero fodê-la
novamente, entre
as estrelas.
gratidão, um grilo
trouxe uma canção
sobre a força do sol
e da lua. olhando para
o amor no pulmão da
tangerina, um golfinho
cuspiu ditirambos e safiras.

assim contaram duas hienas
para as tartarugas e as antenas.
fico na janela
olhando o vento
e logo nos olhos:

milágrimas, milagres.

bagres milenares
contando anedotas
em meus ouvidos.

sexta-feira, 22 de março de 2013

quadrilha, outra vez

joe amava tirésias que amava ramona
que amava marion que amava juquinha que amava lulu
que não amava ninguém.

joe foi para as ilhas salomão, tirésias para o cassino,
ramona nasceu de novo, marion virou paraquedista,
juquinha ficou em silêncio e lulu casou com Z. Pedro Franco
que não tinha entrado na histeria.
mudar os planos & os pulmões,
a acerola nos lábios e os sábios
conselhos do rio, o pio da noite
assobiando entre os seios das
açucenas, as pequenas auroras
nas horas mais improváveis,
as possíveis dobras do tempo,
as canções de ninar o vento,
visões do vazio & sublime
acordeão aceso nas asas
do fogo, sombras dos raios,
corações & sementes de tocaia.

terça-feira, 19 de março de 2013

estamos nus & perdemos dentes,
alguns pássaros pousam nos ombros.
muitas águas correm no peito, tempestade
de coices dos cavalos, imaginação das harpias.

a grama permanece verde, espírito
da mulher que ri com o canto da formiga.
atenção & tesão & o macaco que mergulha
no tanque de suco de laranja aos pés da montanha.

idiotas batendo boca contra os lírios, levitação
do rinoceronte que engole a cabana, cobertura
de chocolate no olho da feiticeira, cabeleira
do mágico subindo entre árvores até o céu.
anicca & ananda

nada me falta pois nada quero,
as mãos em concha para beber.
ossos jogados das mesas, tigelas
e colheradas de bem-aventurança.

cloro da piscina e gene da máquina
incompreendidos entre os borrões
da aurora, melodia da água correndo
feito égua selvagem no cio, no bordel
(do tempo).

boas notícias e ambulâncias a quarenta
milhas do sol, grão do ego empoeirando
a superfície do espelho da mente vazia,
peles e estilhaços do êxtase das papoulas.
improviso sujeito a escoriações

paciência & percepção tática,
mandíbula treinada no ártico,
alma curiosa do pássaro
atento ao ataque cardíaco,
bebendo um gole de absinto
com um personagem da ilíada.

delírio aquecido & acentuado
pelo jejum, confiança na onça.
mágico com saudade da aurora
e das araras, pedaços da noite
negra grudados nas gengivas,
danças de fogo & sombra.
a senda é clara: haverá sorriso
num domingo com chuva se
a alma perceber a rara conexão
ancestral entre a respiração do afeto,
o peito nu e aberto e os pés no teto
do carinho transcendental.

segunda-feira, 11 de março de 2013

ataraxia

hibernar na barriga da égua,
sem medo. jonas trouxe baralho
e passaremos o inverno jogando pôquer,
respirando lentamente, bebendo muita água.

não há mistério no ventre do caos, no esqueleto
das plantas, no planeta subterrâneo das formigas.

os dentes desconhecem as fronteiras
entre o sonho e a carne. há vinho passeando
na medula dos jardins, há cupins desenhando as bocas
das vacas enormes, há uniformes pendurados no vendaval.

um banquete de ossos, um milagre no fundo do poço,
alguns bagres voando alto colina acima, a cisma da noz
contra o silêncio, o cio dos neurônios e das pálpebras.

lucidez despreocupada do afeto, suor, deriva tranquila
debaixo do sol. percepções do estômago e suas vozes,
olhares quietos, felicidade confiante na carcaça do tempo.

porque o minuto é esquisitamente suave
samurais e alquimistas jogam futebol

ninjas andam nus e mancos
nos flancos dos cabelos do sol

tamanduás e formigas fazem carícias
nas barrigas das dançarinas egipcías

casas incendiadas e cores perdidas
enchem os bolsos das cigarras

memórias levantam voo
sem ferir os joelhos, por exemplo.
éris me trouxe aqui
para comer cajá e caqui
despreocupado, aquário
da cabeça sem peixes
azuis e vermelhos, espelhos
cobertos de musgos, sem mágoas.

éris me trouxe aqui
para construir canoas, observar
orquídeas e fungos, alma
limpa pela chuva, sem receio
da curva, morrer à míngua.

éris me trouxe aqui
para rir com ísis & osíris,
catar estrelas nos olhos de hórus,
língua séculos lambendo sapos e clitóris.
respirações tranquilas
respirações ofegantes
escrevo poemas
como quem prefere
carvões a diamantes.

que o olho desfrute do céu
como abutre e o ouvido
esteja atento ao raciocínio
lento da casca na conversa
com o universo e o esqueleto
do ego seja desmembrado, disperso
sobre as brasas e as asas de lama
misturem a alma do azul com o chão
e o coração se esfregue na árvore
que educa e a nuca esqueça o colchão.

coração fechado
pra balanço
na rede.

mente aberta
como planta
com sede.
a lua é o primeiro morto,
pólen da viagem, repouso,
flor no estômago da noite.
 
a lua é uma lanterna
dos aliens, jardim sonoro,
seiva das marés, nossa
saliva, suor & sangue. 
 
abolição da forma,
desaparecimento,
crânios arrebentados
pelos batuques.