segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

dizem que dona maria de lourdes
fica ausente como uma noite sem grande mistério.

cigarras e enormes mosquitos pendurados na janela
e os cabelos no vendaval de um sorriso.

lourdes acende um cigarro

solta a fumaça
como num eterno adeus.

domingo, 30 de dezembro de 2007

dois-zero
zero-oito

desenhou isso na parede e ficou pensando num outro ano.
todos sabem que ele não acredita em revoluções.
pensou noutro ano, dormente, com uma lâmina.
ficava riscando o quarto - dizem que até criou uma série de
desenhos baseados no susto que teve noite passada.
mas já cobriu com alguma tinta vermelha esquecida
pelo antigo morador chinês.

ficou disfarçando o cansaço e a tristeza com um outro ano riscado
e um vídeo barato sobre elefantes e tartarugas.

não gosta de bichos e com força lembra o nome de alguma espécie.


gato.

não gosta de gatos e da presença macia, sem vertigem.
os gatos não gostam dele.

pássaro.

teve uns dois presos e engolidos pelo tempo. não lembra a cor.
não terá novos pássaros. nunca teve.

gafanhoto.

gosta da cor e da música. não encontrou muitos na vida.

pato.

não sabe desenhar. não atirou em nenhum. nunca comeu.
vê na tv. anda como um.



viu um comercial sobre pós-utopia.
desde então dorme embaixo da cama e nunca acende a luz.

achou os antigos dentes.
disse que a boca é um um desvario,
alguma brincadeira sem início.


esqueceu o outro ano em cima do cinzeiro, em brasas.
então soprou o chão como se fosse canção-sem-data.

adormece com a poeira. não sonha.
cruel
como os lindos olhos
do passado

devastando o sossego.
o sol esquartejado
sobre os ombros de meu amor
e a faca lúcida
em sua pele.
a música possível
da medula

elétrica e doce
como uma grande chuva
sem memória

incinerando
os pensamentos mais leves.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

vejo mulheres chorando violinos
e alguns sapos

breves soluços sagrados do ventre

a maternidade é uma ilha.
morrer lentamente
como uma grande estrela agonizante

dentro do tempo.

cair friamente
no esquecimento do século

e dormir.
coração ameno
desde menino.
conversando
com o vento

erguendo um
espírito novo
sobre os braços.
desconcerto e piedade

alguns sussuros por esta noite

e um aceno

algo sereno para o passado

a sabedoria doce dos pássaros

novas mãos caminhando por mim


assobios.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

samambaias e os ciclos solares
sobre meu ego.

saudades eletrônicas
e a atividade. pequena memória de esgrimas.

meu grande amor
rasgando camisas debaixo do céu

e esses uivos essa sede
a saliva

os nomes doces
da noite.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

permaneço
no ar

limpo
feito
o fogo

desses dias.

como
um anjo
sem asas.
achar perto
da pele

o ouro.
procurar abrindo
fendas no esquecimento
e caminhar sem dor

a força do gato.
posso ouvir a terra
se movendo como uma criança enorme

e vejo os teus dedos
brincando com o céu.
criando umas frutas novas.

elas permanecem lá
eu posso ver por algum tempo.

antes do susto.
dançando

livremente
sobre
a lua

livremente sobre.
bons amigos espalhados pela neve
e os intintos
me protegendo da noite
como da última vez
em que estive dormindo como os fios
suspensos sobre a grande vida

a viagem
que ele desenhou
como o sol
poderoso

o movimento pelo ar
caindo como um pequeno mosquito

sem céu


eu não sei
onde estou.

domingo, 30 de setembro de 2007

nublado
como esses dias

o azul do chumbo
esse cinza

meus olhos
caminhando
contra o horizonte

mirando
a origem
da noite

vigiando
lentamente
a manhã

lentos
abertos como os poros.
você sabe de mim
e sobre eu não usar armas.
eu olho a lua e penso
que sou criança, como dizíamos.

eu saio
do controle mas me lembro
de correr olhando para
você. você sabe onde eu me escondo
no céu e nas noites sem choro.

o brilho do sol mostra
quem eu sou. o que eu
sinto e o que eu sei
estão passando
por debaixo da ponte e da porta
que eu abri pra você.

o que ainda está comigo
e que dorme e me lembra
o jeito como você anda.

ela gosta de me ver dormir
sobre o chão de estrelas.

o que está na tempestade.

sonhando que está coberto
pelo segundo perdão.
você pode me ouvir?
peço por favor a segunda graça.
a segunda face. esse longe que eu pude ver
sobre a grama tão distante.

deitado e calmo como uma estrela.
tranquilo como um sol novo.

os retratos em azul espalhados
pela cidade. você abre sua boca
e explica os caminhos difíceis

de voar.
eu não tenho gatos
e sei sorrir
como um garoto
sem os brinquedos antigos
chorei
debaixo do céu noturno
e não esqueci
o teu rosto louco.

eu queimei o inverno
e meu humor.
dispersei tudo sobre o chão.

eu fiquei esperando
um sonho do outro lado do jardim.

mas dispersei tudo
sobre o espelho

e esqueci o azul.
perdi o azul.
as flores
sem data
estão enterradas
no coração

e os filhos.
algo
que ninguém sabe
nem sente

algo
que não se
move

algo
que nega
o céu

algo
que é noturno
e palavra

algo
que seja.
a semente
a vertigem de futuro
a paisagem sem olhos

esse longe.
eu espero que você me ache
antes da chuva. estou vagando
lentamente pelas ruas do teu sonho.

você tem fogo?

joga teu nome sobre os muros
dos novos dias. tu é doce
e o riso que se move. como
eu gosto de ouvir e cheirar tua pele.

o rádio que deixo dormir
dentro de mim.

como esse sol.
a imagem desse sol.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O sujeito pós-moderno é um sujeito, para dizer o mínimo, descentrado. Seu pensamento é rizomático. Afirmar um "eu" depois das ondas do freudismo, do marxismo e do darwinismo é um interessante desafio ocidental e literário. Ou mesmo existencial. Se tivesse lido Hermann Hesse a pouco tempo, mais especificamente "O Lobo da Estepe", poderia dizer, com um pouco de inclinação oriental, que o "eu", esse "eu" único, centrado, não existe. Ou melhor, não é uno, unívoco; poderia dizer que sou muitos, várias almas no mesmo peito, ou trezentos como pretendeu o poeta. Ou talvez não seja nada disso, seja só um inquieto. Um apenas.

Começar com um parágrafo sobre pós-modernidade, um tanto de sociologia e filosofia e um outro tanto de literatura, ceticismo e contradição diz muito sobre mim. Sou um inquieto. E romântico. Daí a paixão pelo jornalimo. Acredito, como jornalista e como cidadão, que o jornalismo - e a comunicação de maneira mais ampla - é o lugar do conflito, da dúvida, da inquietação, da crítica. Jornalismo é (ou ao menos deve ser) sempre subversão e reflexão, investigação e ceticismo. E, principalmente, o lugar da contradição, onde se desenrolam os jogos de interesse, as argumentações e contra-argumentações. Uma arena ou uma ágora - as faces-irmãs de um mesmo ambiente.

Criar um metatexto diz muito sobre mim. Gostar do movimento dada (ou revivê-lo) também. Gostar da escrita em primeira pessoa, escrever contos, poemas, realizar curtas-metragens, tudo diz muito sobre mim - ou sobre esses diversos no mesmo peito. Tudo diz muito sobre mim, assim como diz muito sobre o jornalismo que crio, que realizo e com o qual dialogo. Acredito que o interessante seja escrever nessas fronteiras, nesses indefinidos: o jornalismo e o cinema, a literatura, a música, a tecnologia, etc. O jornalismo na vida, na vida mesmo, sendo algo orgânico. A comunicação fundamental, fundante. O jornalismo é o lugar do outro.

Ser um jornalista ou se definir como um é procurar a interlocução, a voz do outro e as mediações. A comunicação é dialógica, como pensou e pregou Martin Buber. Isso não diz respeito apenas ao estatuto de nossa profissão, mas às nossas existências. Ou ao menos à minha. A comunicação é dissonância e também harmonia. É o lugar para todos e de todos. Acreditar que o jornalismo também seja o lugar de todos e para todos seria ingênuo ou utópico. E é por isso que a contradição é importante. A ingenuidade está a um passo do ceticismo e a utopia nos embala na mais doce letargia. E o inverso.

Sou um jornalista. E também sou um escritor, um poeta, um videasta, um realizador, em suma. E ainda sou nada disso e o contrário. Guardo no meu peito essas teses, antíteses e sínteses. Como disse Maurice Maeterlinck, começamos a vida por afirmar, depois negamos, para finalmente acolher tudo numa síntese. Como eu penso, o jornalismo (e o jornalista) mistura tudo em sua origem, em sua formação e vivência. O movimento descrito por Maeterlinck, nos jornalistas não sucede em etapas, mas é um "vivendo", um "agora", de sua prática. Buda diria que é o caminho do meio. E poderíamos dizer também dos extremos (como o santo e o libertino). Sou um jornalista. Esse é o meu caminho do meio. Sou um jornalista. Esse é o meu extremo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

riscar meu peito, o medo
esse gato sem olhos
o azul dessa hora
o silêncio confortável
e as ruas as ruas as ruas

riscar meu peito, a dor
essa planta estranha
o fogo das esquinas
o ruído sem plumas
e os pés os pés os pés

riscar meu peito, a estrada
essa vértebra doce
o depois da noite
o horizonte de foices
e as bocas as bocas as bocas

riscar meu peito, o diamante
o espelho atrasado
o relógio sem alma
e os rostos sérios, sérios

domingo, 23 de setembro de 2007

talvez eu corte o cabelo
ou viaje pro mississipi
talvez eu quebre o espelho
ou acorde com uma gripe

talvez eu veja você
ou fuja do meu país
talvez eu ligue a tv
ou finja que sou feliz

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

porque
trago no peito
uma moça que dorme
com as canções de janeiro

e essa incrível dor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

um bilhete de literatura e vida

(...) por algum silêncio e um punhado de equívocos, escrevo. gosto de escrever. e gosto de escrever sobre quem gosto. por isso te fiz três poemas. e por isso escrevo agora. por literatura e por vida. é algo como um bilhete, só que maior, com mais palavras. mas mantém esse ar do bilhete, esse algo informal, de certa proximidade entre os dois extremos, quem escreve e quem lê. eu e tu.

um bilhete. pra dizer: gosto de tu. tenho afeto e afeição. gosto. e me repito dizendo isso. só mudo o suporte. mas acho que é preciso dizer isso. gosto de tu. muito. me sinto bem contigo. e vejo que somos (eu acho) diferentes. raros. você é rara. e também uma barra, como diz. e isso é parte de tua beleza. gosto de teu cheiro e das pequenas mitologias que criamos, como um anel pirata esquizo, poemas, cheiros e quetais. te acho linda, e tu sabe. gosto de tu e gosto de estar contigo.

eu não entendo intimidade como contrário de liberdade. acho que tudo está no afeto. nesse "ser bom/fazer bem/gostar". tu diz que gosta disso da não-cobrança. de eu ser diferente. e eu acho que é isso, sabe. ser diferente. viver afetos sem dor. e é isso que sempre tento deixar claro. mas as pessoas são lindos problemas. e abismos.

por isso este bilhete. e um punhado de equívocos.

quando falei contigo, era com esse intento. e por gostar de estar contigo e querer estar contigo. e escrevo agora com o mesmo sentido. e diante dos equívocos que a linguagem fundou. não sei como você entendeu o que disse. é complicado ler silêncios. tudo que é entredois já é tão complicado. por isso tento evitar os ruídos, o que prejudica o entendimento, a não-permanência da incompreesão mútua. por isso tento estar claro para que não deixe de ser por alguma razão desconhecida, por um silêncio, por um mal-entendido, ruídos, essa eterna "incompreesão mútua" entre as pessoas. principalmente debaixo do afeto.

por isso o poema e a conversa. porque não queria deixar de estar contigo por alguma coisa não-dita, alguma falta de entendimento. com a distância, pensei que o que incomodava você era certo "ar de compromisso", ou seriedade em mim. e não era. nem é. mas também é errado imaginar que isso exclua a existência desse afeto, desse "eu-me-sentir-bem-contigo". pois há. e tu sabe disso, eu acho.

tenho medo de incompreensões. não entendi bem, por exemplo, você não ter me beijado da última vez que nos vimos. foi estranho isso (eu que comecei achando estranho, por não costumar viver esse hábito, mas que me habituei e gostava de me cumprimentar assim contigo, mesmo que o gesto pudesse ser visto como algum compromisso. mas isso não seria um problema e não via incomodos nisso. pois sabíamos de nós. era um gesto de afeto. pessoas que se gostam) justamente pelo fato de ter vindo temporalmente depois da conversa. pra mim foi como uma resposta silenciosa e triste. mas uma resposta ambígua também. não sei. não entendi o que você entendeu. nem o que sente. daí esse bilhete ter uma outra coisa.

outra coisa desse bilhete. tua voz. se existe uma cobrança possível, é esta: querer ouvir tua voz e tu dizer tuas teorias. o que tu pensa sobre isso. sobre esse "a gente/nós" que houve. poucas vezes tu falou. está perdido em minha memória o dia que tu falou. que disse algumas poucas impressões sobre mim e sobre estarmos ficando juntos. tu tem histórias pra os outros. e essas histórias eu nem ouvi, por mais banais ou corriqueiras que fossem. queria te ouvir.

esse é um desejo lúcido. e que espero não seja tomado como cobrança ou qualquer coisa mais grotesca. é unicamente porque gosto de você e por alguns instantes acho que você também. eu me sinto bem contigo e não queria perder isso por alguma coisa que já citei, algum tipo de distância sem razão.

tem um verso de bandeira assim: "a vida que poderia ter sido e que não foi". é de uma tristeza sem-fim pra mim. e é muito forte, pavoroso. guardadas as proporções, é assim em todos os nossos atos e com todos os nossos sonhos e desejos. é assim com nosso afeto. não queria imaginar um sefosseassim se posso ter um invetamosassim, éisso, criamosevivemosessesmomentos, temosissoagora.

eu gosto de tu, barra. te estimo, à vera.

e por isso,

os poemas
os encontros
o bilhete
o que foi. e que pode ser. ainda ser. ou ainda é. ou será.

esse nósgostamoseestamos
que não sei como vai (ou se já não "foi").

por isso o bilhete. por isso querer te ouvir.
esse é um desejo sincero. sem jogo. nem medo. nem do ridículo.
pois te estimo. gosto de tu.

mas também imagino como eco um longo silêncio. ou não.
espero compreensão. estar contigo. como estivemos. mas nem sei.

gosto de tu. essa é minha teoria. e isso não tem nada a ver com supressão da liberdade ou algo assim nem também com algo como tantofaz. você é um açúcar - e isso quer sempre dizer algo bom em meus poemas. é isso. para fugir de toda possibilidade de incompreensão. mesmo correndo na beira do insano. ou do assustador. e possa ser lido e colocado no lugar do riso.

como escrevo por vezes, tu diz. me diz. dessa loucura.

esse bilhete.
a gente.

umbeijo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

eu fui por aí com os tornozelos torcidos e olhei as coisas do
outro lado.

escrevi sobre esse outrolado. eu vi você faminta e especialmente sombria.

eu conheço o caminho e minhas pernas me levam
para debaixo da mesa e do sonho.

embaixo do sol eu reconheço o rosto do horizonte e a fome
dos olhos pelas cenas

repetidas. uma grande agonia para os pés que caminham
na lua. e ouvem a música

antiga do amor e do afeto. esse território sem pegadas e livre
de toda linguagem

corrompida. esse lago sem mapa. o açúcar das eras e a margem
do espírito.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

sérgio sampaio me disse que as pessoas são lindos problemas numa canção bonita. minhas palavras giram sob esse céu de afeto. eu não tenho visto esse corpo. não tenho casa. as pessoas são problemas. o inferno. quem disse isso foi sartre. mas tanto faz, entende? agora estou amargo. sérgio sampaio não tem tanto açúcar assim pra me dar. e eu só procuro o útero, essa volta. mas não encontro essa utopia. e crio algumas máscaras. eu vou descendo a rua falando sobre entretenimento e finjo muito bem saber os nomes das músicas que gosto. eu penduro um quadro na parede e a pintura me diz que é melhor ficar com as coisas. e só. tudoentredois é problema. sem beleza. estou amargo, já disse. por isso não espere aqui o lírico, o infantil e surreal. nem me espere. não estarei. melhor esperar por godot. ou por deus. saravá. estou amargo. e só. com as coisas e com o vento. eu posso sair por aí e fingir que conheço todos os lugares e que sei aonde estou indo. mas estou aqui e quero ficar aqui. nesse eu. o ego é como um grande céu onde desenho as letras gigantes: E U.

estou certo. eu estou certo. eu estou aqui. eu estou amargo. eu estou aqui. eu estou só. eu quero que as coisas estejam. eu não quero o sorriso sem útero. eu estou aqui. eu estou amargo. eu cruzo as ruas dentro do quarto. eu esqueço todos os nomes. eu começo de novo. e de novo. mas agora estou amargo. eu estou riscando os nomes. eu gosto de fogo. eu não escuto sérgio sampaio agora. eu . eu . eu. faço qualquer coisa, entende? e dessas coisas de abimos e ego eu sei. mas quero afeto. isso é fato. mas fatos não existem, existem apenas interpretações. isto é niezstche. eu quero o útero. a volta ao ventre. ficar dentro. e não entre. acho que é por isso que nada aqui fora dá certo. aqui é tudo entre. o afeto. a música. a noite. o amor. mesmo o amor. fica dentro mas sai. na verdade ele não fica dentro. só finge. entra e sai. o amor o sexo o amor o amargo o abismo o sexo. tudo é máscara. e fingimento. está todo mundo bem. estão todos bem. só eu falo. ou escrevo. ou confesso. só eu. eu fico amargo. todo mundo está bem. todo mundo tem enormes sorrisos. e falam comigo. é engraçado como não gosto de sorrisos quando estou amargo. e eu estou amargo. o sexo fica entre. e nunca dentro. com ou sem metáfora. é assim. é por isso que eu corro e fecho os olhos e abandono os poros ao fluxo. eu quero estar dentro do mundo. dentro do rio. dentro do mundo. do afeto. do amargo. quero estar dentro de cada coisa. de cada pessoa. mas eu estou amargo. eu não quero estar dentro nem acreditar que possa estar dentro. nem acreditar que isso exista: estar dentro.

aqui fora só existe o entre. e eu gosto do entre, não é isso. mas estou cansado. e amargo. porque tem de ser assim sem linguagem, os ruídos e tudomais? porque tem que ser esse silêncio ou porque tem que ser esse grito essa fala? nada se resolve aqui fora: está tudo entre. e eu não acredito no entre. não agora. estou. agora que estou e quero ficar aqui. eu vou procurar um lugar pra ficar dentro. eu quero ficar dentro. mas acho que isso só vai significar ficar dentro de mim, nesse abismo mudo de tantos anos. acho que é isso. sem literatura, confissão ou oquefor. dane-se. danem-se. principalmente isso: danem-se. uma grande banana pra todagente. pra todo esse fora, esse estar-aqui. aqui estou só. e amargo. porque as pessoas são problemas. e minha mão é uma rua por onde chego à praia. as pessoas são problemas. problemas. apenas isso. eu me disse.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

as maçãs
estão me fazendo sorrir
e as menssagens vêm pela garrafa

e vão rio abaixo

falam das idéias
noturnas e do outro lado

leio tudo como se fosse
um rei

e as maçãs
me fazem sorrir

eu não me encontro só

e olho o oriente
e o horizonte

com um grande aceno
pedindo socorro.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Water - 29.10.91

ruminando
o líquido
e essas voltas
pela cidade

dentro da vértebra
andando como
um sopro
à noite

caminhando
com a cabeça
violenta
e o espírito

a água

(essa sede)

cruzando
as ruas
livremente

n ossos corpos
d e l i c a d o s

como a noite/açúcar
e esse som sujo
colado em
nossosolhos

nossas mentes
rolando sobre a grama
(essa água): o mar.

domingo, 19 de agosto de 2007

caminho com os pés suspensos sobre as flores. eu vou junto com o sonho desta noite quando

acordei e vi que o dia tinha acabado e levado suas dores. eu te falava como as ruas se

dobram sobre as vozes e como é bom ir por aí sem destino e com alguém. fico cantando as

letras que sonhei e vejo o teu rosto repousando no horizonte. eu só espero o afeto e o

útero. a manhã bonita colada ao teu sorriso. eu tento. é que quando eu conheço alguém quero

viver mil histórias sem dor.
sincero
o rio derrubando as cercas
e os sorrisos amigáveis.

a madrugada
roendo as palavras
e o alcóol sem data
de nossa história.

sou
a criança
que acredita
nas peças que cria
e na atmosfera

e eu sempre volto
pra mim.

guardo os nomes
bonitos na minha cabeça
e esses diálogos.

drunk: elétrico

como a noite/os corpos

antes da viagem

e do que não interessa.

sei dizer
o que quero e não quero

e não fico quieto.

drunk: elétrico.

como a linguagem

e tudoquefica
entredois.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

o nosso rei está no ventre. minha palavra cobre o sol. o livro fica em silêncio e toda terra

treme. nosso povo vem de longe. caminhando através dos séculos. os passos perdidos dentro da

linguagem. a profecia se abre como uma fruta e a manhã. a aurora derrama seus olhos sobre

seus filhos. o dia cospe em nossas bocas e nos amamenta. a enorme teta do mundo nos abriga.

os antebraços mais doces das cidades nos acariciam. nossos rostos são iluminados como o fogo

que queima desde o início. o universo escorrendo na calçada. um sorriso aceso como as

crianças que correm à nossa frente. nos jardins os tigres brincam com as vespas. o caminho

se contorce como um deus elétrico. o tempo flui em nossa medula. meu povo tem sede de

felicidade e justiça e colhe os lírios mansos do afeto. criamos as camas e os vinhos nobres

do espírito e da carne. nossas casas tem o cheiro da amizade e um gesto esquisito suspenso no ar.

queimamos nossos nomes na estrada. estamos dentro do gato azul. o céu redobra a atenção e os

pés cantam as belas cantigas. a paz e o delírio. o grande oriente. a américa e o antigo. o ocidente e

o antes. nosso além e nossa origem. a floresta mansa de nossos antepassados. a fome por afeto. e

a justiça de nosso ventre. a vida. e a nossa vida.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

meus ossos crescem e eu
fico velho. essa barba
esse rosto essa pele tudo
está dançando dentro da gravidade.

a palavra rio está gasta
como a garganta.

invento os sóis dessa hora
como se fosse um novo ano
e eu continuasse caminhando
pelas ruas de minha vertigem.

longos pássaros pousam
em meus olhos.

o espelho e o escuro
se trancam
nos bolsos de minha mente.

renovo
os segredos da infância
e escondo num livro

meu corpo
essa fuga abençoada
o vôo

e todos os soluços.

sábado, 11 de agosto de 2007

a primavera do tempo. vejo os homens caminhando sobre a terra. seus veículos

loucos e soberanos e seus dentes queimando o sol. os homens assaltam a cidade

como grandes animais e o ódio é o pão comum. os jardins incendiados e os pássaros

adiados pelo antebraço do dia. esse oceano do século. esse ritmo esses rostos

tudo tão deliciosamente antiquado. tudo assim nonsense. e tão fraterno e

ancestral. esse rasgão na carne esses socos no ar. posso ver os enormes sorrisos

gordos e assustados com o pássaro de fogo e com o verão. essa cacofonia fértil de

nosso cérebro. o espanto e o açúcar. essas moças desmaiando e esses vestidos. um

campo aberto e tranquilo. uma lenta caminhada. as drogas leves e que ficam

passeando sobre a pele. essas datas anteriores. esses dadas. paris. a revolução.

o que está perdido. essa música cortando as cabeças burguesas. a aurora de um

tempo como um abraço da faca. essa luz percorrendo toda a cidade e devorando as

pernas. essa grande chuva. esses trovões e os carros suspensos da mente. o breu

da tradição e a fé no esquisito. essa risada esse ganido. o comportamento

fundamental do rio. e da queda. o ventre delirante do meu corpo. meu passado.

essa música e todos eles. todos eles. todos eles. e as piadas. sobretudo as

piadas e a ironia. e esses dentes e essas unhas. docemente subvertendo os sonhos

do horizonte. e seu sono. arrancando o cabelo estéril das famílias. marchando

como um vírus sobre as praias dos homens. a fúria a rebeldia a selva acordada do

peito. a destruição de tudo que é frágil. e claro como o dia. e tem rosto e se

assusta. tudo que é silêncio. tudo que não é tumulto. tudo que não escapa. e é

contra o magma da existência. a navalha da fome de futuro e vida. a vida. nós.

todos nós. agora. agora. agora.
eu não quero
nada
que seja limpo. esse teu sorriso
e o céu branco como o teu olho.

não quero.
essa infância
estúpida como dentes
guardados. eu não quero

e não tenho
medo.
mordo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

o cheiro
do alecrim
está em mim

por isso não acaba

e vem
de teu sorriso
e da palavra
doce de tua boca

e está
em tua roupa
como se fosse
um sonho
que a gente desenha

e não apaga

terça-feira, 7 de agosto de 2007

fale comigo a linguagem do amor e de seu sangue. me dê sua alma e deixe eu entrar

em sua casa. sou um senhor em seu mundo. essa queda ligeira. fale comigo. eu

tenho o vermelho pra nossas roupas. fale comigo a linguagem desesperada e o

delírio. como um sino. e as mãos agressivas que se repetem. eu vou te balançar

como o sino vermelho e como as roupas no varal. eu fico olhando você tomando um

choque e penso que você está seguindo o universo e vem falar comigo essas

sendas que só nós conhecemos. eu sonho o universo te fabricando e você fala

comigo sobre o que vê. e os momentos em que você cheira a garganta doce do

futuro. como um rio dentro do peito. aceso como esse olhar e essa linguagem. eu

te levo pra dançar com o universo e escrevo as canções desta noite. eu apenas sei

que você se move lentamente e não se envergonha e não vai embora. como esse sonho

saindo do que o universo pensa sobre mim. um filme nonsense sobre nós e sobre

como o escuro cobre as coisas sobre mim. e uma chuva. essa chuva que fala comigo

em tua linguagem. olhando os flashes que você projeta. e os pássaros. essas

gotas.
quando eu cair entre as rochas eu vou dizer que estava querendo caminhar por aí.

como se fosse agosto e chovesse mas o frio não me fizesse esperar o sol e eu

seguisse por aí. sem procurar as pessoas sem rosto. sem anotar os nomes sobre

nós. sem o guarda-chuva imenso da lógica. sem querer saber nada sobre nós.

deixando esse silêncio para nós. sem pedir um favor e aquecer o coração. como as

coisas que não cabem mais em nós. o último filme que fiz e esse perfume que você

levou embora. e as frutas que eu pintei sobre você sem razão. e o dia foi fumando

o que eu sei. esse silêncio eu guardei na estrada e fiz o pó te cobrir. um pé e

outro. eu num caminho sem a tua imagem e sem a voz. com a medula chorando essas

estrelas grandes como o sol. mas eu não espero nada e talvez por isso eu sangre

enquanto caminho. e às vezes eu posso dormir sobre meus olhos. e eu leio a sombra

e água e o fogo com muito amor. porque isso não diz de nós. isso é. e eu sinto

como se abrisse o estômago e a manhã pra ir me deitar. como se fosse a melhor

coisa a se pensar. um sentimento bonito. um sorriso sem direção. tateando afeto

como uma coisa que permance jovem. uma asa errando pela rua. olhando os que

passam e não tem nome. essa treva do novo como um tóxico. mas isso é a melhor

coisa a se pensar. andar sem as mãos no bolso. observando os passos. e tudo que é

outro enroscando em nossa pele. eu saio e me perco. e isso é como uma rua

estreita. e eu me encosto nos outros. reviro os abismos sem código e isso é o

melhor a se pensar. eu sinto.
nós vamos cantando
e olhando a paisagem.

ó deus como isso nos faz bem.

nós cantamos
e andamos olhando a paisagem.

e todos vão descendo e ficando bem
e se juntam a nós.

cantando e olhando a paisagem.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

rá rá rá.
correndo pelado como um
louco ou como uma
bicicleta sem rodas só
girando por aí. rá rá.
correndo pelado pelas
ruas. destruindo as avenidas
como uma bicicleta
sem rodas. rá. correndo
e queimando as ruas. r. r.
r. r. r. r. recitando
a fúria de um deus
qualquer. caindo
como um metal pesado
sobre as costas. rindo
como uma luz
cegando um rosto.

domingo, 5 de agosto de 2007

eu quebro os ossos e sonho. vou adormecendo e quebro os ossos. como se escapasse

e dissesse que (nada) tudo (nada) é tão real. mas eu tenho passos lentos e meus

olhos deixo nos bolsos pra ver tuas mãos me tocarem. é fácil cair dentro de um

som. basta cegar os olhos. e sentir cada vértebra se partindo se rompendo como

uma corda. eu cheirei o sol e (não) era real e eu não sabia mais amar. mas trouxe uns

animais comigo. eu ainda estou bem. eu permaneço. como as rochas que continuam

rolando e vão pra longe.

sábado, 4 de agosto de 2007

você ri
como quem dança
ou escuta
uma música
antiga e bonita

e eu
não tomo
o café que você bebe

mas quero
passar o inverno contigo.

terça-feira, 31 de julho de 2007

partir do alto. dentro do dentro. como numa nave. uma grande viagem sem volta. os

ossos soltos como bocas enormes. um pulo e outro. esse equilíbrio sobre a

navalha. tudo muito rápido como se fosse fogo ou coisa parecida. mas também fosse

água. caindo. e eu mergulhasse. caísse líquido feito o pássaro inconsciente. eu

fico bêdado e minhas vétebras sabem do chão. minhas histórias ficam na pele. e eu

sempre danço rápido e sem camisa. mesmo num grande silêncio. mesmo sobre a cama

ou sobre um trilho. dormindo dentro do espaço. cobrindo a rua com o antebraço

estendido. esperando a aparição. criando os jardins temporários da desordem. mas

uma coisa mansa. coisa densa feito susto. ou medo. coisa rápida como uma mente.

uma festa. ossos. ossos. uma festa rápida como ossos. e como sorrisos debaixo do

sol. gente gente gente. mãos desenhando o delírio. em todas as carnes. entrar e

sair de si. assim. feito mágica. rápida. ou lenta como uma onda violenta. e um

quarto escuro sem o nome no ouvido. sem fresta. uma nesga de luz. eu risco com

minha unha uma canção. uma palavra amarela sobre a pele. nas cicatrizes da

lentidão. como a lentidão do único, do estar-só. cubro com esse ouro pouco. esse

pó dos dentes podres. pra acender o quarto e quebrar algumas colunas. a última

lição: ouvir a reinvenção. se você prestar atenção não se divirtirá. seja um

idiota. não perca tempo com minhas costas nem com minhas mãos nem com o ouro nem

com a cicatriz nem com o líquido nem com a queda nem com nada. só dance assim.

nesse escuro sem nome sem companhia. dance sem olho. assim livre. e sem medo.

como se partisse do alto. como se rodasse desde a origem. como se caísse dentro

da vertigem. como se sangrasse pelo prazer do vermelho e fosse ao chão pelo

prazer das manchas. e habitasse uma falésia pelo prazer do vôo e da aurora. mesmo

dentro do quarto escuro sem nome nem ouro nem pele nem cicatriz. na dança escura

e aberta. a dança primeira. a última lição. dança. onda. dança. líquido. e dança.

bóia no espaço, na vértebra do ar. nesse buraco no oco no ventre nessa barriga da

sala, do escuro quarto. rasga com uma faca essa música e toma um banho dentro. só

isso. correndo na pele. sem caminho definido. como uma mão querendo tomar teu

corpo. uma invasão sem linguagem. com uma mudez doce um afago feito foice

colhendo a manhã. e pondo fogo na plantação. pelo prazer da dança. dos corpos.

nesse escuro do quarto. a última lição sem linguagem. sem linguagem. sem

linguagem. sem ligai aaheuç arar hawrewoh8 gt8 wye aethapwe8yt uht et8y9ty0

apwt78y0apw7tgpa7wegtp 3498yt p4tp ya´tar7aauma asda da asfa dança sem linguagem

asoiypaethpqae i. x. . y. o. u. dança. esse corte na linguagem diz. diz que aosi

haa çu açefawur. como numa guerra. eu ouço as coisas caindo sobre mim. como se

você se derrubasse em mim. ou girasse e caísse. em mim. no escuro. sem dança.

como numa guerra. ou num esconderijo com muito medo mas divertido. como um açúcar

cego. feito formigas comendo o escuro. o abismo de toda pele. as sombras. onde

piso onde aprendo onde ando onde invento onde durmo onde sinto onde saio. essa

geografia, nome novo na boca. eu dentro do território. do breu definitivo do

outro. cortando raízes com os cabelos. e lambendo os poros. e os cheiros.

primitivo. feito dança. e silêncio. e. linguagem. e . e . .e .e e. e. e. e. .e

.e. e. e. .e. e. .e. e. e.. e. .e..e .e..e. .e. .e. e.. e.e..e ..e.

.e.e..e..ee.e.e...e som. ritmo. essa terra de dentro. isso que nos faz. e. ou.

esse sexo mudo. e tudo.
essa noite eu sonhei que corria

num campo aberto. a grama rente

sob os meus pés e o vento gelado

me levando por aí. meus sapatos

se divertem nessas horas. eu fecho os olhos

pra inventar um percurso. minha queda

é um abraço. o chão tem maneiras suaves

de lidar com quem o ama. eu sinto

que têm pessoas me olhando. é nesse momento

que eu me seguro num pássaro

e acendo meu cigarro. e quando

passo por você eu seguro a tua mão. e a gente

voa por aí. num céu aberto. com o azul

bem rente.

eu não fecho os olhos

quando vôo.

nem os poros.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

é engraçado como ainda vejo teu corpo ao meu lado. eu guardo comigo esse teu

rosto acordando e a minha mão sobre tua pele. eu te carrego comigo. você parece

uma profecia estranhamente embriagada e eu me cubro de uma fé despretensiosa e de

afeto. eu não crio abismos pra te assustar. canto o teu nome baixinho pra dizer

que sou eu que te afago e falo teu nome. e isso eu não sei dizer sem milagres.

você ri e fica um pouco longe. mas eu sei que você me entende. você segura minha

mão e olha o meu antebraço. somos esse início. a abertura. um rasgão na aurora.

algo bonito e doce como os sons dessa casa. você já sabe meu nome mas ainda não

viu a chuva comigo. então vem e fica perto. vamos amanhecer. adormecer. com a voz

descansando no rosto do outro. nesse quase-silêncio nosso. sem nome. ainda

estranhos mas alegres. e saindo como o sol e o brilho da lua. um caminho que

desenho no antebraço. pra você vir ver de novo. e de novo. como a chuva que

cai agora sobre mim.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

escondido. ou escancarado como uma chaga. uma chama. ou esse abismo que somos nós

e que é todo mundo. somos nós nosso mundo. e nos abrimos e mentimos. somos

estranhos e únicos. estamos escondidos. um dentro do outro. debaixo da pele. no

mais azul do osso. e os teus cabelos. engraçados e negros. e sinceros como o

sorriso estranho e azul, dos abismos. sinceros como coisa escrita. como coisa

vivida por acaso e vontade. essa ficção noturna. embriagada. dois corpos são dois

abismos e trezentos desconhecidos no peito. eu estou no teu silêncio e você afaga

meu tempo. estamos aqui. fora desse frio e na aurora do entre, o diálogo, a

fronteira, a conversa, esse entre-deux, entre-dois, isso nosso. e inventado como

nossos nomes e nosso futuro. e essa música baixinha e a manhã. estamos aqui e

depois. expandidos. mergulhados no outro. e no silêncio. e no azul de todo sonho.

em expansão. recriando o mar e nossos nomes. eu me chamo x. qual teu nome?

posso ler tua pele? os sinais, o afeto. esse nosso útero.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

passeio pelos campos sem me perguntar
onde vou. sei que meu passado toca a sola
de meus pés mas sigo docemente e acompanho o sol.
você sabe o que isso significa? eu não
me sinto mal. você me pergunta pela trajetória e eu digo
que meus braços são lentos e profundos
como uma alma. a paisagem me corta. o verde
sorri como uma grande criança e me arrasta dentro
dos sonhos. velozmente. os vizinhos se vestiram
para dançar. a colheita irá começar. a moça vem
com um manto e abençoa os frutos. este ano eu serei
um rei. e todos saberão meu nome. isto é um milagre
e minha filha sai do futuro e cai em meu colo. suavemente.
como a chuva. então eu vejo meu povo sorrindo
e se abraçando. essa dança difusa do amor. e as árvores
são lavadas pelas lágrimas e pela felicidade. e quando
meu pai morre. tudo ressuscita. essa é toda a verdade.
em minha aldeia.

domingo, 15 de julho de 2007

eu tenho o coração
numa gaiola e não sei
o que fazer com o brilho
cego das facas

eu apenas vivo
e me bebo
encosto
meu ouvido
em teu ouvido

pois
também quero
ouvir a noite

e os grilos
que ficam
lá dentro
as praias
permanecem (lá)

eu imagino
nossos passos (lá)
caminhando de novo

e correndo
atrás dos cometas

e fumando
todo o mar (lá)

estamos
na mesma viagem

a gente
permanece (lá)

e se aquece (lá)

todos os dias
vamos
ficar
calmo
s
esorr
i
r
estát
u
d
o
certo
outra
v
e
z
um arquivo
ao acordar
se apaga

odeio
o rio
passado

novamente.
você tem olhos pequenos e
me deixa perto de seu coração
como se colasse uns pedaços meus
junto de você.

mas eu não entendo
nada sobre você e eu.

você tem olhinhos.
a médula
o verão

a moeda
o inverno

a mudança
o outono

a moça

a primavera
fico quieto
e risco
o céu

discreto
(com as
mãos no
bolso)

depois
apago
deus

ou
cubro
com um desenho
amo
as
coisas que
se apartam


e vão pra longe.

amo

as palavras

que se afogam
no banheiro do apartamento.

amo

os dias
que são quentes

e ficam fora do quarto.

amo

o s m e u s p a s s o s
no corredor e na cozinha

amo

os jardins
fora de casa

e amo

as janelas

amo sobretudo
as janelas
eu ando por essa avenida cheia de gente rápida e feia e pergunto pelo vento que

descobre meus cabelos e me deixa e pelo sol brilhante que aquece meus passos e

desenha o chão do meu caminho e que me deixa sem fala. eu ando por essa avenida

cheia de gente máquina e foice e respondo as moças no cio que me interrrompem e

me investigam e respondo as deusas que diariamente passeiam com os mendigos e

ficam loucas. eu ando como essa dor que passeia. eu ando como um improviso. um

sem-roteiro que adentra a cidade, nu de olhos.
sem sombra
danço rápido
como um cavalo

ouço o sol
das esquinas
como um santo

incandescente

e nu.
um gato
dormente
nos olhos

me sobrevoa
e eu durmo em paz
com espinhos
deixo o corpo aberto
num rumo sem rumo

na presença do silêncio
rabisco um conto

e tiro
os passarinhos do bolso
pra pintar o vento

a noite inteira
a noite inteira
a noite inteira

e vôo.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

eu escuto uma canção por teu nome nos lábios.

a mesma porta sem trinco. girando como uma lua

furando nossos olhos. nós não estamos desertos. ficamos

por perto. assim num abraço. meu amor. tudo está certo.

eu eu você e as coisas. tudo certo.

eu danço com você na estrada, meu amor. tudo em volta está escurecendo

longe de nossa dança. somos frutas abertas debaixo do sereno ou uma rama

que se espalha pelos pêlos. um coração pra os dois. nós cabemos

nesse mesmo coração. como o amor. você escuta uma canção

por minha letra. eu escrevi mas não sei tocar. mas

você escuta o que passou e sorri. eu choro sem-fim.

sou um vagabundo sentimental.

eu vou pra longe desenhar teu nome. no chão da minha pele.

com uma brasa. vermelha como o meu coração vagabundo. esse sopro, esse cais

donde eu fico acenando pra tua lembrança. eu passo por teu sono

sem dizer palavra e descanso nos teus olhos e na canção.

e o meu coração vago anda por aí. só pra ficar longe

batendo contra o sol. guardando os passos. e a voz. tudo.

nessa canção. de andar.
o tempo e a véspera do tempo. eu trago os meus sapatos nas mãos e ando descalço.

eu lembro de ter dito que a loucura é uma grande ferramenta. mas você não

acredita em milagres e não pula. eu era um rei e era o amigo. eu era o amoroso

diamante e a chuva. um caminho expresso. eu andava descalço como se fosse uma

grande criança. eu olhava em teus olhos e podia ver o açúcar de tua alma. eu

podia te cheirar e ir ver o rio. eu refletia o sol e rodava pelas esquinas. era

como se estivesse olhando um oceano. minhas memórias favoritas. as ondas indo e

vindo. a tarde atravessando todos os corpos. um barulho. algo como um mergulho

dentro de um som. ficar coberto por um som. ou como se fosse um imã. algo

divertido. o tempo é uma grande ferramenta. não preciso ter olhos. eu tenho pele.

ando descalço e mergulho. esse jardim, esse pássaro. um vento que sopra mas não

se sabe onde. a vértebra. o desvio. uma queda. a água escorrendo nos troncos das

árvores. estamos nos dias das sábias lavagens. uma época, uma terra. eu caminho

sem medo e estendo os meus braços para as pessoas estranhas. todos olham meus

pés. eu caminho descalço. os sapatos nos bolsos e os diamantes. eu escolho a

vertigem. é como se eu corresse em direção a uma parede. e ficasse tremendo. isso

passa por minha pele. fica por debaixo. uma vertigem. o tempo de vender o que

está por detrás da tarde. as garotas que vão embora. depois de olhar o temporal.

o álcool incerto dessa noite. um diamante e um oceano. navalha. sem os dentes.

sussurrando. a história das pernas. e do caminho. é como se eu fosse uma grande

criança. nesse rio. boiando. ou corrente abaixo. parece que estou numa grande

teia. numa veia. dentro dos organismos. da vida. como numa respiração. me

sinto ligado às coisas. em seu calor. como se andasse com as mãos dadas.

e descalço. como uma chuva dentro de um quarto-escuro. como se eu tivesse as

portas para ir paraqualquerlugar. como uma corrente. descendo. por vertigem.

cobrindo as minhas costas e o meu rosto. lavando o meu caminho. eu dentro do

mundo. do mundo. guardado. em movimento. uma flecha do tempo. abrindo os espaços.

inventando o eterno. o fugaz refazendo o sol a cada manhã. um rio de diamantes

trasbordando. algo sônico. tenho as imagens na camisa. eu vejo os bichos que se

alimentam da distância. eu ando com eles. descalço. existo no dentro. no junto. e

fico me repetindo e dando voltas. pra dizer o que a respiração sugere. esse

vórtice. esse grito. toda palavra que está vibrando. sem-sentido. uma torrente

despejando seus braços sobre mim. eu tenho um jardim de cores. e cheiro tudo

perto do chão. e meu corpo é coberto pela água mansa da desordem. estou junto.

alguém fica esta noite com meu corpo. e eu ando descalço. e durmo no chão. a

grande chuva cai pelos meus antebraços. permaneço. uma fera se torcendo. seu

dorso de bicho dançando. permaneço. como um volt. rindo. animal de silêncio e

corpo. linguagem de água. o barulho primeiro. pintando as paredes de minha mente.

a canção aberta. seu ruído fundamental. um banho. essa voz sem grão. esquisita

como a de nossa infância. e como um sopro em olhos fechados. mas sem cinema. ou

linguagem. só o ruído fundamental. as pernas caminhando. e sumindo no sono. como

se o dia acabasse. e a gente fosse embora.
trago os abismos
no peito e você
se encosta em mim

queimamos nosso tempo
com os sorrisos
e nos sujamos

nas nuvens

somos raros
como um afeto
sem memória

e dançamos

l e n t a m e n t e.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

tenho dois pink floyds. eu sinto o vento gelado me cortando a espinha. é por

isso que estou aqui deitado perto de você. eu me esquento. eu cheiro o teu dorso.

um longo território de silêncio. eu tenho bastante tempo. tenho dois pink floyds.

eu comecei e não estou lento. estou só um pouco dormente. mas você me entende. é

por isso que eu estou deitado ao teu lado. você me entende? todocorpoquercontato.

eu quero tudoquesejaútero. é por isso que estou deitado ao teu lado. o calor

intra-uterino. como um grito lento. a mãe caminha suavemente e a minha pele vai

criando memória. os silêncios vão fazendo sentido. eu balanço suavemente, por

dentro. adormecido de vida. não-estou-fora. um dentro como um sonho. sem

linguagem. imagino coisa líquida como um sonho. uma coisa que flui. líquida como

um pensamento. não. menos denso. como um sonho mesmo. algo doce como a palavra

afeto e como um abraço. é justamente isso que é confortador. um abraço. essa

presença. algo doce. como a palavra afeto e teu abraço. essa intimidade. é algo

doce. é por isso que estou deitado ao teu lado. meu corpo e teu corpo. assim. um

abraço. algo doce. entre nós. somos assim: jovens e loucos como uns diamantes que

brilham. nós podemos ver os buracos negros no céu. nós somos jovens e loucos.

você sabe que é proibido crescer e desaprender o riso. é possível falar com as

estrelas quando se está assim: bilhando. como jovens. como loucos. como num

abraço. pois não é no abraço que se inventam estrelas? isto é um segredo. eu choro

para a lua. e eu sou jovem. como o esboço da noite. eu exponho meu rosto. jovem

como um diamante. um louco. eu me acompanho e permaneço por aí. eu me abrigo no

céu e em outras jovens. as. mesmo em silêncio e apartado. ou quando deito ao teu

lado. como num abraço. é por isso que eu deito ao teu lado, entende? é como no

sorriso e na palavra. como uma coisa rara. isso que não se diz nem se entende mas

que parece escrito por debaixo da pele. como a memória que se criou. o caminho

que se fez, por dentro. líquido. e por dentro. é uma coisa rara. sem linguagem.

como nosso abraço. o sorrisso é um abraço de longe. e de perto. e por dentro. ele

é algo doce. como a palavra afeto. como a repetição é doce quando sorrimos. ou

quando giramos. eu tenho bastante tempo. eu posso girar a noite toda. eu tenho

meus olhos e vejo a noite negra. eu uso os ternos feitos por minha irmã. algo

doce e negro como um corvo. ou como uma face. eu guardo meus olhos nos bolsos. e

te desejo boanoite. é por isso que eu saio do teu lado. mas estou contigo. mesmo

indo embora com a mente longe por duas semanas. eu posso te encontrar. e tenho

esquinas parecidas. como se nós fôssemos as pedras que continuam rolando. ou como

se nossos olhos se conhessecem como o instinto da pele, a memória. o útero, o

abraço. nos entendemos, não? como um sorriso e como a pele. como algo doce. e

elétrico. como uma colina com sombras. eu não preciso tomar banho sem as estrelas

nem guardar meus dentes pra noite. eu vejo o céu azul e as plantas criam a minha

mente. eu dobro as coisas e acredito que vejo. e cruzo o céu. cruzo o céu da boca.

é por isso que estou ao teu lado. elétrico. é porque cruzo o céu da tua boca. e

estou deitado ao teu lado. é por esse silêncio. por algo doce. e pelo útero. é

por isso que estou deitado ao teu lado. por teu corpo. é por você. pelo rio e a

memória que foi criada. como um útero. essa sombra. líquida e dormente. como o

tempo que não escorre. ou escorre e flui. é líquido. como uma espinha. como o

dorso. é por isso que estou deitado ao teu lado. é porque sou rio. doce e

elétrico. como um útero. é por você. sou um som. como esse rio que está dentro. o

sangue e o sonho. estão dentro e são líquidos. como o fogo pode ser líquido. é

como um sorrisso. é como sorrir. é por isso que estou deitado ao teu lado e não

choro. tenho sorrisos. é como se eu tivesse um útero. é como se fosse você. é por

isso que você está deitada ao meu lado. eu sou um útero. eu sou um rio. o tempo.

eu escorro, líquido. como um sonho. e também estou dentro. é por isso que você

está deitada ao meu lado. é como dormir. ou um sonho. algo doce. e líquido. um

útero. algo elétrico. o cio. dentro. é por isso que estamos deitados.

assimjuntos. só temos dois lados. elétricos. e doces. e sorrimos e nos abraçamos.

temos o dentro. o sangue. o rio. e o útero. tenho tempo. temos tempo. somos

líquidos. como o rio e o sangue. e elétricos. temos dois pink floyds.
não tenho pátria. sem geração. ando só. só como um lobo. não estou aí nem aqui. eu não estou. como um lobo. só corro. não sou. um lobo. viro as esquinas. eu queimo o caminho. veloz. feito um fogo sem rumo. e sem fogo. eu não insisto em ser alguém. só corro. como um lobo. ir mais longe. o que eu posso andar. correr. todo o silêncio. esse dia. a bola do sol. estou só como um lobo sem sol. por que? não devo acreditar em nada. como um lobo. eu só devo mostrar os dentes. mostrar os dentes e afastar as pessoas. como um lobo. armado. mostro os dentes e recolho a alma. sem pressa. numa festa de dentes. e sangue. desalmado. como um lobo. como um azul magro. ou fosco. como a epiderme riscada pelo fósforo. liberados! o ar me cria como um lobo ou um lagarto que procura o crime. como um bastardo. um sem-sono. sem nome. um que não dorme. nem perto nem longe. os olhos abertos e os dentes à mostra. em toda a carne. a pintura. como diversão. como uns sapatos indo pra lá e pra cá. como alguma coisa roçando o chão. como as calçadas e as avenidas da cidade. essa violência. essa coisa da pele e do vermelho. todas as drogas e nossa felicidade. tudo na farmácia violenta de nossos corpos. eu lembro um lobo em tuas unhas. a noite me engana e eu corro dentro de você. sou violento. violento como um lobo. e cínico. eu gero o sol que entra nesse quarto. eu gero meus inimigos. o que está podre (não) tem razão. não quero a súplica. escondo meus dentes e minhas patas. minha cara é uma história. os irmãos não sabem das feras. eu sou um lobo. essa noite eu vou correr. riscar as ruas. ir por aí. como um espírito. sem espírito. como uma cabeça. somente a razão. ou um corpo bem assim. como se fossem os pés. indo. indo. in do. i n dd do. sem onde nem quando. como um espírito de porco. cruzando a repetição. e as ruas dobrando nos mesmos nomes e nos mesmos instantes. com um som estranho rodando na cabeça. imginando as curvas. uma boca enorme e outros espíritos. como um grito primitivo. somente um grunhido. um sem-sentido dada. avante. uma ave sem nome e sem pluma. apenas gritando. apenas. um a. um u. algo em torno da garganta, de dentro da garganta. sem hora de acordar. só o sol desse a desse u. um a. um u. aa uu. assim mesmo. de dentro. das dobras da boca de dentro. esse estômago. um a e um u. isso. um grito. de ficar cego. um a. um. um lobo. corre. um a e um u. a hora de gritar. correr. um lobo. um a e um u. um risco. esse horizonte. lá na frente, esse tempo. um a e um u. assim mesmo sem tempo pra respirar. só olhar ou correr. cruzando todas as ruas. e destruindo as igrejas com um sonoro não. um a e um u. basta pra dizer que não gostamos de bispos, padres, madres nem freis. somente um a e um u pra dizer que não gostamos do papa nem da frigidez. não gostamos da igreja. temos só a pele, os dentes e os ossos. o corpo o espírito de porco. não gostamos de deuz nem do amém. não. um nó. é um templo. a frigidez. os pés amarrados. sem festa. sem corpo e sem pés. eu não tenho religião. só. só como um lobo. eu não gosto. só de minha pele, meus dentes e meus ossos. depois o pó. o não.

terça-feira, 3 de julho de 2007

fiz
um
poema
concreto

bem
a meu jeito

com
palavras que gos
to

como açúcar
e música

e com teu
nome



pra
dizer:

que

ainda toco gaita

(e)

como
você

quinta-feira, 28 de junho de 2007

terça-feira, 26 de junho de 2007

calmo. e extremo

calmo. calmo porém extremo. é suave como há muito tempo não sinto. eu estou com você. eu

sei. e você de se encostar em mim e abrir o seu sorriso e não pára de falar contra o sol e

ao telefone. tudo desliza lentamente sobre você e eu. tão lento como nosso tempo. como

nossas mãos. o pensamento que nos atravessa. é calmo. porém extremo. eu vôo. e você se sente

como uma grande montanha e se assusta antes quando eu caio. eu sempre caio primeiro e

procuro ao longe as chamas que me atraíram. eu espero achar alguém esta noite pra procurar

comigo. nem que seja lentamente. como deve ser lento. eu procuro. nós procuramos. o que se

faz? lento. lento lento e já vai longe. e me diz. o sul desse tempo dobrando a esquina e

desamarrando nossos sapatos. eu posso ver seus movimentos. mesmo à noite. e eu ainda sinto o

teu cheiro. esse perfume novo, essa imagem. essa voz já está lenta. como aquelas que a gente

escuta só na mente, com os olhos fechados. você sabe? mas sempre tem uma música de fundo.

calma. lenta. como a chuva. esse tempo. esse breve silêncio. a música fala de nós e de como

a vida é extrema e delicada como a vida acaba em nossos rostos e como nossas canções podem

ser tristes e em como nossos antebraços estão abertos. nós temos o sol. quem caminha conosco

descobre esse perfume esse horizonte essa fresta esse rio dormente essa gente adormecida

como a noite. tudo é silêncio e esse sopro é só o som sem voz. o grão do sentido. o mínimo.

nossa menor comunicação. esses agudos. esse doce agudo e esses graves. principalmente esses

graves. toda a nossa boca. e as noites. noites. diavirá. tenho uma teoria sobre a chegada do

dia. sobre a aurora, sobre as ruas, sobre as luzes, as cores, os cheiros. eu acredito. eu

acredito em teorias que invento. eu peço o que me agrada mas eu também estou lá. eu vejo a

segunda face. esse quadro eu não interrompo com os olhos. como permanece. aceso e detrás da

coluna de fogo. é como aquilo que se esconde entre um sonho e outro. fica entre o fogo e o vôo.

como uma semente em sua vida interior. como a segunda face. eu desejo a segunda graça. como

se eu fosse voar por sobre toda gente que conhece e como se eu não parasse na dor. você

acredita? e vem? eu tomo um drink com você. a gente toca fogo nessa noite. eu posso te ver

em casa. dessa vez. como um fogo que refaz a noite. como um bar sonoro. é dentro de teu

corpo que eu durmo. essa estrada. o zen contra a chuva. eu amo as coisas. as coisas não

permanecem. e ninguém vê. eu ouço meus sorrisos pois não estou perto. as coisas boas são

como uma grande fábula. essa história. a história desta noite. mas eu não sei dançar. Você me

leva onde quer assim, eu sei. sei disso. finjo também. eu continuo com os meus pés suspensos.

isso você não vê mas eu posso contar num dia de domingo. eu descubro algumas flores em tua

pele e escuto esse poema escrito em teu corpo. teus cabelos são os sonhos desta noite. são

negros. e dançam. eles caem. dançam entre os meus dedos. acima das horas, como se fossem

suicidas ou pássaros. eles caminham sobre os sorrisos que te distribuo. as coisas falam de

mim e eu me comovo. você está linda está noite. vamos cantar uma canção? me acompanha. eu

também vou escrever a letra. me acompanha. essa esquina o século a rebelião e os processos

do tempo o vento que não se move as nove noites da praia e os ônibus que descem leves pelo

céu. é disso que eu falo. em silêncio. mas eu imagino que você percebe. as minhas mãos são

um oceano de segredos e linguagens. você no céu do norte. eu tenho um longo tempo longe dos

teus passos. eu não caminho para o azul. mas sou como uma onda que se arrebenta contra os

muros das vanguardas. essa liberdade eu carrego como um raio na boca e outro nos olhos. você

deve ter visto e se aproximado. você parece com esse inverno. ou como o cinza aceso das

emoções. é preciso estar perto. como uma fênix. ou se espalhando pelo chão desse céu do

norte. eu caminho. nunca estou perto o suficiente. mas a véspera é sempre alegre. eu sempre

estou. eu me demoro. eu crio o som dessa passagem. essa vértebra. escuta. esquece os olhos. o

cheiro. escuta. na derme, escuta. viu? essa memória da pele acende. basta encostar. é como o

acaso. basta ter os antebraços abertos, os braços abertos. é como um afago. como um útero. já

imaginou uma coisa como o útero? eu queria dormir com você esta noite. eu escrevo histórias

com os nomes que estão perto de mim. o teu. o teu tem histórias. você tem idéia? não. não sabe.

mas dia desses tu lê. pode ter sido agora. o que tu acha? seria legal se tu soubesse o nome da

música. diz. só tem uma resposta. diz. então? isso. é tempo de estar junto de mim. me arrodear

com seus olhos, dobrar meus sonhos e cubri-los com a minha mente. é tempo de estar comigo,

correndo pela noite. como num dia de chuva ou numa floresta imaginada. como as ondas

curtas. como podem ser? é tempo de voar livre e nu. é, já disse. tempo de estar comigo. você

consegue me entender. eu não sei falar de outra forma. eu só mudo os tons. e eu gosto de verde.

e de gaita. ah, claro, eu gosto de te ver. e também de escrever e mudar os tons. de sentar ao teu

lado e mudar os tons, as peles, os tempos. é como revirar a terra. como cavar o dia e levantar

uma árvore com os dedos. é tempo de estar junto de mim. recolhe em meus olhos teu cansaço e

teu medo. derruba teu corpo contra meus braços. é tempo de estar comigo. você escuta essa

canção e fuma comigo. estamos nesse mesmo oceano. eu te abraço. é tempo. umbeijo. começa

outra música. eu deixo os teu olhos me dizerem uma teoria para o dia de ontem. e outra sobre os

dias que seguem. mesmo aqueles de chuva. os dias sem-tempo-certo. me conta sobre os teus

ossos. e sobre tua infância. e sobre todas as vezes em que você percebeu que era você. assim.

como? o eu. o teu. isso. esse outro de mim. esse tu. conta. é bonito de se ouvir a tempestade

cobrindo os lírios. correm e dançam como se festejassem o dia do rei ou a grande colheita. como

um deus numa ilha. só. partindo de um lado ao outro da liberdade. sem vigias. o sumiço do outro.

o silêncio que é pra mim. a noite vem vindo como se o dia se fosse. eu vejo o fogo crescendo sobre

os montes. eu me vou. num giro. ou no rio. e você, vê o dia indo embora? eu vou caminhar por aí.

você vem? me acompanha. segue a música. é como um pássaro surfar. é simples. você pode até

ver. eu não duvido. é rara. é simples me seguir. eu sempre estou aqui. e caminho por lá. você

vem.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

I

tenho
uma teoria
sobre o alecrim

sua presença frágil
engolida pela noite
sua rebelião discreta
e o riso aberto
seu perfume aceso
como uma brasa
contra o céu.

II

tenho
uma teoria
sobre o alecrim:

afeto e silêncio.

sábado, 23 de junho de 2007

ai tupi or not. eu sou um garoto. até amanhã. quero gritos, o sexo esquisito contra a fé no amanhã. eu não me espero até amanhã. o que faço, como volta, o que faço, como volta. o garoto gordo me espera do outro lado com seus dentes abertos, loucos, seus dentes, sua raiva. as pernas falam, passam sobre o tempo. ou dançam. as pernas dançam. um terror. as pernas dançam. mas eu grito. eu grito. acredito nos ossos. só sei que os olhos sabem do que se esconde. se estiver sozinho eu não falo nomes. o a. o aaaa. o aa aa aaa a a. eu preciso de mais tempo. você se recompõe com os seus amigos. é possuído que vou loonge. se escurece eu quero tudo. a garganta. o túmulo. a queda. o escárnio. o que foge. o que brilha. o que diz que eu não passo. que eu não prendo. que eu não prenso as coisas. que se fazem contra o tédio. eu não sei do tédio. tudo gira. tudo gira. quando as palavras serão ossos. pergunta. é preciso criarmos o dissenso. serei uma maça podre. a margem. podemos mudar de assunto? a pergunta. o sinal. o sinal que fala da pergunta. esse silêncio. exatamente. o que se faz com o ódio. o que se faz. eu me perco. os dedos. o que escapa. aperto esc. esc. esc. esc. correr é uma coisa de não se desaprender. o que se faz, corre. eu sei. o susto que tomo eu tomo. o que escapa. como um assassino. o que se diz das palavras. o que as palavras. se me seguem como um ramo. como o sol. como os olhos. se movem com o que se quebra. eu preciso de rochas. como o que se quebra e desfaz. virá. contra a palavra. o que parte. o que é um sim. é tudo muito real. eu não aprendo a só perceber. se encolher num vôo é quase voltar pra parar. o salto. o susto. o sussuro. é como brincamos de rir. e ficar louco. ficar louco é tão absurdo. absurdo e comum. o que faz sorrir quando escrevo. o que não escrevo e fica só até onde vou sorrir. fica comigo. esta noite ela fica comigo. a palavra. a segurança da boca contra o abismo de existir. fora. no espaço no e s s s pa aaaa a a ço. o que voa. fora. dentro do longe. habitar o longe. o que se esconde no horizonte da boca. digo sim. falo das coisas que se vê no céu. tudo é real. às vezes até o meu pensamento. como um grande sim. destava. eu páro. posso por abaixo tudo que digo. o que sobra. o que fica na senda, o que o incêndio fabrica. segue. o que é caminho. eu tenho medo das ruas. não tenho medo das ruas. eu tenho medo das ruas como eu não tenho medo das ruas. a dor. o que penetra. fere. faz. fica. fixa. foice. vértice. desenho. mão. tudo a mão alcança. tudo que não pensa. isso é muito feio. isso aí. isso. você já saiu com isso. eu corro. eu corro. eu invento e toco fogo. eu destruo contra meus braços. eu distraio o tempo. invento sombra e pernas. você vê tudo que está atrás de você. geração. não tenho geração. eu estou só. e é tempo de estar só. eu me mexo. deslizo e caio no ar. passo as férias. dentro. mergulho. sou todo política. investigo. como um trilho. eu gosto de você como um trilho que sempre está lá. eu vou passar por aí. pisarei por aí. neles. neles. neles. eu durmo depois de você e sei do que fala. o sono. essa guitarra líquida. essa vértebra. o que como. que costuma cair. criar. cia. o cio. o ócio e a revolução. o que a boca alcança. só acredito em revoluções que alcanço com a boca. estou quente. e nas ruas. estou quente e não descanso nas sombras. passo férias na coluna. me dispenso. o poente. o presente é só um passo. um além de si. algo assim. o que cresce. o presente é o caroço. o grão. o que cai. a a queda. do alto. e rápido. como se o rio descesse sobre tuas colunas e não te despedassassem mas só te levassem por aí. uma viagem. o que se diz pra domingo. eu corro pela cidade pra comprar flores. eu não compro flores à tarde. a noite tem coxas e a pele está lisa como o céu. esse azul. azul estúpido. sem direção. um azul sem direção. é exatamente isso que não gosto. um azul sem direção.

domingo, 20 de maio de 2007

e perco horas com o silêncio.

e penso que sonhar é pouco.

como estender as asas para ir se deitar no horizonte?

acho que esqueci o rosto de minha infância.

(as fotografias espalhadas sobre a mesa não falam de mim

suas luzes acusam outro universo

imagino que se trate de antimatéria)

as longas noites como abismo passam se não pouso os pés.

(que disse? me reviro sobre a cama e mergulho no outro de mim)

vou deixar as palavras entre os lírios para que o sol as alimente

dentro da alma que irei inventar agora.

Bum!

não me esperem (eu digo isso pra mim).

--- correr, correr, correr

vai, menino!

é preciso perder o medo do acaso

do sorriso e da garganta do futuro

(entro em espelhos, meus olhos se tingem de segredos

comungados por sussurros. desejo que me escutem)

pular para (...)

# estar-no-mundo

Benção para um Lêmure

que tu acenda o verde de todos o séculos

que a tua cabeça tenha ninho de coração

que tu aprenda e desaprenda por prazer infantil

que tu vá e volte

que tu seja

que tu alimente um pássaro perdido

que tu alimente um pássaro achado

que tu fale com crianças se levantando até elas

que os velhinhos continuem sendo brilhos nos teus olhos

que buda seja uma flor em tuas mãos

que tu invente o dia

que a lembrança de tudo seja boa

que o sorriso seja um doce, um brigadeiro

que a palavra acerte e erre

que a noite também seja tua amiga

que tu não olhe o horizonte com indiferença

que tu saiba das plantas, ainda mais

que tu sinta das plantas, ainda mais

que tu seja junto com os outros animais (inclusive comigo)

que tu não adiante o tempo - só o entorte vez por outra

que tu ouça o rio da felicidade - mas saiba mergulhar e não morrer afogado

que tu permaneça voando por todo tempo

que tu acompanhe a partida das velas

que tu pise nas nuvens e dance em cima dos muros

que tu se reinvente, sempre

que tu esteja em paz


que tuas mãos sejam ágeis para amar e tardas pra odiar


que tu não dê a outra face, mas saiba dar uma gargalhada


que tu acolha o pequeno príncipe no teu coração


que nas tuas costas nenhum deus se atrapalhe (nelas só o vento)


que tu dê as mãos a muitos deuses e a muitos humanos


que tu aprenda com estranhos sobre a possibilidade e sobre o acaso


que tu tome sorvete só por que é frio e engraçado


que até chegue a encostar o sorvete na testa


que pedro seja mais velho que tu


que tu vire água


que tu seja um lago, à tarde e pela manhã, uma cachoeira


que seja tudo - até o brega


que tu perca o medo do brega e do trivial


que tu se suje de cotidiano - mas cotidiano sublime


que tu enxergue a ponte que liga os seres humanos


que tu me perdoe


que tu esteja lá


que tu não olhe o sol com tanto raiva ou tanta coragem


que coloque as asas de cera


que tu tire as asas de cera


que tu escreva e não escreva


que tu vá


que tu se enrole de futuro - mas viva pra agora


que tu se despeça dos relógios


que tu se atrase


que tu saiba dormir e saiba acordar


que tu goste de beber água


que tu goste


que tu aprenda a fazer comidas boas


que tu ressuscite o afeto de todos


que tu seja tu


e que, repito, tu vá

aí seremos abençoados

pela noite e pelo dia

por todos os pares

por todas as faces

que tu caminhe sem pressa, mas sem demora

e que tu carregue papel e caneta - pra me explicar o mundo,

por teus olhos, por teu cinema

e que tu adormeça na vida e acorde na vida


e que tu OM


OM

OM

OM

(...)

por meus poros

por-me us poros

p or me usp oros

pormeu sp oros

p o r m e u s p o r o s

po r meu spor os

p orme us po ro s

pormeusp o r o s

p o r m eu spo ros

porm eus p o r o s

pormeuspo r o s

pormeusporos

põe as auroras

sobre a mesa

enquanto toma

um café amargo


devolve a luz

que o horizonte

deixou embaixo

dos lençóis


apaga a palavra

(rejuvenesce)

escrita dentro

da terra

e mergulha

na garganta

das passagens


apodrece e

cria os musgos

que não sabem

de teu rosto

ouço

o que roço


/ ruído

/ palavra

/ barulho


todo som

tem pele.

estamos

no Monte da Aranha

e vemos o mundo.


acima do tempo

nossos avós

se divertem.

debaixo do rio

nossas crianças

invertem

o curso

das águas

com sorrisos.


a terra é uma benção

e estamos

dentro

de sua respiração.