o tempo e a véspera do tempo. eu trago os meus sapatos nas mãos e ando descalço.
eu lembro de ter dito que a loucura é uma grande ferramenta. mas você não
acredita em milagres e não pula. eu era um rei e era o amigo. eu era o amoroso
diamante e a chuva. um caminho expresso. eu andava descalço como se fosse uma
grande criança. eu olhava em teus olhos e podia ver o açúcar de tua alma. eu
podia te cheirar e ir ver o rio. eu refletia o sol e rodava pelas esquinas. era
como se estivesse olhando um oceano. minhas memórias favoritas. as ondas indo e
vindo. a tarde atravessando todos os corpos. um barulho. algo como um mergulho
dentro de um som. ficar coberto por um som. ou como se fosse um imã. algo
divertido. o tempo é uma grande ferramenta. não preciso ter olhos. eu tenho pele.
ando descalço e mergulho. esse jardim, esse pássaro. um vento que sopra mas não
se sabe onde. a vértebra. o desvio. uma queda. a água escorrendo nos troncos das
árvores. estamos nos dias das sábias lavagens. uma época, uma terra. eu caminho
sem medo e estendo os meus braços para as pessoas estranhas. todos olham meus
pés. eu caminho descalço. os sapatos nos bolsos e os diamantes. eu escolho a
vertigem. é como se eu corresse em direção a uma parede. e ficasse tremendo. isso
passa por minha pele. fica por debaixo. uma vertigem. o tempo de vender o que
está por detrás da tarde. as garotas que vão embora. depois de olhar o temporal.
o álcool incerto dessa noite. um diamante e um oceano. navalha. sem os dentes.
sussurrando. a história das pernas. e do caminho. é como se eu fosse uma grande
criança. nesse rio. boiando. ou corrente abaixo. parece que estou numa grande
teia. numa veia. dentro dos organismos. da vida. como numa respiração. me
sinto ligado às coisas. em seu calor. como se andasse com as mãos dadas.
e descalço. como uma chuva dentro de um quarto-escuro. como se eu tivesse as
portas para ir paraqualquerlugar. como uma corrente. descendo. por vertigem.
cobrindo as minhas costas e o meu rosto. lavando o meu caminho. eu dentro do
mundo. do mundo. guardado. em movimento. uma flecha do tempo. abrindo os espaços.
inventando o eterno. o fugaz refazendo o sol a cada manhã. um rio de diamantes
trasbordando. algo sônico. tenho as imagens na camisa. eu vejo os bichos que se
alimentam da distância. eu ando com eles. descalço. existo no dentro. no junto. e
fico me repetindo e dando voltas. pra dizer o que a respiração sugere. esse
vórtice. esse grito. toda palavra que está vibrando. sem-sentido. uma torrente
despejando seus braços sobre mim. eu tenho um jardim de cores. e cheiro tudo
perto do chão. e meu corpo é coberto pela água mansa da desordem. estou junto.
alguém fica esta noite com meu corpo. e eu ando descalço. e durmo no chão. a
grande chuva cai pelos meus antebraços. permaneço. uma fera se torcendo. seu
dorso de bicho dançando. permaneço. como um volt. rindo. animal de silêncio e
corpo. linguagem de água. o barulho primeiro. pintando as paredes de minha mente.
a canção aberta. seu ruído fundamental. um banho. essa voz sem grão. esquisita
como a de nossa infância. e como um sopro em olhos fechados. mas sem cinema. ou
linguagem. só o ruído fundamental. as pernas caminhando. e sumindo no sono. como
se o dia acabasse. e a gente fosse embora.
Um comentário:
adorei esse..
adorei mesmo!!
sou sua eterna fã :)
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