sexta-feira, 13 de julho de 2007

o tempo e a véspera do tempo. eu trago os meus sapatos nas mãos e ando descalço.

eu lembro de ter dito que a loucura é uma grande ferramenta. mas você não

acredita em milagres e não pula. eu era um rei e era o amigo. eu era o amoroso

diamante e a chuva. um caminho expresso. eu andava descalço como se fosse uma

grande criança. eu olhava em teus olhos e podia ver o açúcar de tua alma. eu

podia te cheirar e ir ver o rio. eu refletia o sol e rodava pelas esquinas. era

como se estivesse olhando um oceano. minhas memórias favoritas. as ondas indo e

vindo. a tarde atravessando todos os corpos. um barulho. algo como um mergulho

dentro de um som. ficar coberto por um som. ou como se fosse um imã. algo

divertido. o tempo é uma grande ferramenta. não preciso ter olhos. eu tenho pele.

ando descalço e mergulho. esse jardim, esse pássaro. um vento que sopra mas não

se sabe onde. a vértebra. o desvio. uma queda. a água escorrendo nos troncos das

árvores. estamos nos dias das sábias lavagens. uma época, uma terra. eu caminho

sem medo e estendo os meus braços para as pessoas estranhas. todos olham meus

pés. eu caminho descalço. os sapatos nos bolsos e os diamantes. eu escolho a

vertigem. é como se eu corresse em direção a uma parede. e ficasse tremendo. isso

passa por minha pele. fica por debaixo. uma vertigem. o tempo de vender o que

está por detrás da tarde. as garotas que vão embora. depois de olhar o temporal.

o álcool incerto dessa noite. um diamante e um oceano. navalha. sem os dentes.

sussurrando. a história das pernas. e do caminho. é como se eu fosse uma grande

criança. nesse rio. boiando. ou corrente abaixo. parece que estou numa grande

teia. numa veia. dentro dos organismos. da vida. como numa respiração. me

sinto ligado às coisas. em seu calor. como se andasse com as mãos dadas.

e descalço. como uma chuva dentro de um quarto-escuro. como se eu tivesse as

portas para ir paraqualquerlugar. como uma corrente. descendo. por vertigem.

cobrindo as minhas costas e o meu rosto. lavando o meu caminho. eu dentro do

mundo. do mundo. guardado. em movimento. uma flecha do tempo. abrindo os espaços.

inventando o eterno. o fugaz refazendo o sol a cada manhã. um rio de diamantes

trasbordando. algo sônico. tenho as imagens na camisa. eu vejo os bichos que se

alimentam da distância. eu ando com eles. descalço. existo no dentro. no junto. e

fico me repetindo e dando voltas. pra dizer o que a respiração sugere. esse

vórtice. esse grito. toda palavra que está vibrando. sem-sentido. uma torrente

despejando seus braços sobre mim. eu tenho um jardim de cores. e cheiro tudo

perto do chão. e meu corpo é coberto pela água mansa da desordem. estou junto.

alguém fica esta noite com meu corpo. e eu ando descalço. e durmo no chão. a

grande chuva cai pelos meus antebraços. permaneço. uma fera se torcendo. seu

dorso de bicho dançando. permaneço. como um volt. rindo. animal de silêncio e

corpo. linguagem de água. o barulho primeiro. pintando as paredes de minha mente.

a canção aberta. seu ruído fundamental. um banho. essa voz sem grão. esquisita

como a de nossa infância. e como um sopro em olhos fechados. mas sem cinema. ou

linguagem. só o ruído fundamental. as pernas caminhando. e sumindo no sono. como

se o dia acabasse. e a gente fosse embora.

Um comentário:

natália disse...

adorei esse..
adorei mesmo!!
sou sua eterna fã :)