quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O sujeito pós-moderno é um sujeito, para dizer o mínimo, descentrado. Seu pensamento é rizomático. Afirmar um "eu" depois das ondas do freudismo, do marxismo e do darwinismo é um interessante desafio ocidental e literário. Ou mesmo existencial. Se tivesse lido Hermann Hesse a pouco tempo, mais especificamente "O Lobo da Estepe", poderia dizer, com um pouco de inclinação oriental, que o "eu", esse "eu" único, centrado, não existe. Ou melhor, não é uno, unívoco; poderia dizer que sou muitos, várias almas no mesmo peito, ou trezentos como pretendeu o poeta. Ou talvez não seja nada disso, seja só um inquieto. Um apenas.

Começar com um parágrafo sobre pós-modernidade, um tanto de sociologia e filosofia e um outro tanto de literatura, ceticismo e contradição diz muito sobre mim. Sou um inquieto. E romântico. Daí a paixão pelo jornalimo. Acredito, como jornalista e como cidadão, que o jornalismo - e a comunicação de maneira mais ampla - é o lugar do conflito, da dúvida, da inquietação, da crítica. Jornalismo é (ou ao menos deve ser) sempre subversão e reflexão, investigação e ceticismo. E, principalmente, o lugar da contradição, onde se desenrolam os jogos de interesse, as argumentações e contra-argumentações. Uma arena ou uma ágora - as faces-irmãs de um mesmo ambiente.

Criar um metatexto diz muito sobre mim. Gostar do movimento dada (ou revivê-lo) também. Gostar da escrita em primeira pessoa, escrever contos, poemas, realizar curtas-metragens, tudo diz muito sobre mim - ou sobre esses diversos no mesmo peito. Tudo diz muito sobre mim, assim como diz muito sobre o jornalismo que crio, que realizo e com o qual dialogo. Acredito que o interessante seja escrever nessas fronteiras, nesses indefinidos: o jornalismo e o cinema, a literatura, a música, a tecnologia, etc. O jornalismo na vida, na vida mesmo, sendo algo orgânico. A comunicação fundamental, fundante. O jornalismo é o lugar do outro.

Ser um jornalista ou se definir como um é procurar a interlocução, a voz do outro e as mediações. A comunicação é dialógica, como pensou e pregou Martin Buber. Isso não diz respeito apenas ao estatuto de nossa profissão, mas às nossas existências. Ou ao menos à minha. A comunicação é dissonância e também harmonia. É o lugar para todos e de todos. Acreditar que o jornalismo também seja o lugar de todos e para todos seria ingênuo ou utópico. E é por isso que a contradição é importante. A ingenuidade está a um passo do ceticismo e a utopia nos embala na mais doce letargia. E o inverso.

Sou um jornalista. E também sou um escritor, um poeta, um videasta, um realizador, em suma. E ainda sou nada disso e o contrário. Guardo no meu peito essas teses, antíteses e sínteses. Como disse Maurice Maeterlinck, começamos a vida por afirmar, depois negamos, para finalmente acolher tudo numa síntese. Como eu penso, o jornalismo (e o jornalista) mistura tudo em sua origem, em sua formação e vivência. O movimento descrito por Maeterlinck, nos jornalistas não sucede em etapas, mas é um "vivendo", um "agora", de sua prática. Buda diria que é o caminho do meio. E poderíamos dizer também dos extremos (como o santo e o libertino). Sou um jornalista. Esse é o meu caminho do meio. Sou um jornalista. Esse é o meu extremo.

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