segunda-feira, 10 de setembro de 2007

um bilhete de literatura e vida

(...) por algum silêncio e um punhado de equívocos, escrevo. gosto de escrever. e gosto de escrever sobre quem gosto. por isso te fiz três poemas. e por isso escrevo agora. por literatura e por vida. é algo como um bilhete, só que maior, com mais palavras. mas mantém esse ar do bilhete, esse algo informal, de certa proximidade entre os dois extremos, quem escreve e quem lê. eu e tu.

um bilhete. pra dizer: gosto de tu. tenho afeto e afeição. gosto. e me repito dizendo isso. só mudo o suporte. mas acho que é preciso dizer isso. gosto de tu. muito. me sinto bem contigo. e vejo que somos (eu acho) diferentes. raros. você é rara. e também uma barra, como diz. e isso é parte de tua beleza. gosto de teu cheiro e das pequenas mitologias que criamos, como um anel pirata esquizo, poemas, cheiros e quetais. te acho linda, e tu sabe. gosto de tu e gosto de estar contigo.

eu não entendo intimidade como contrário de liberdade. acho que tudo está no afeto. nesse "ser bom/fazer bem/gostar". tu diz que gosta disso da não-cobrança. de eu ser diferente. e eu acho que é isso, sabe. ser diferente. viver afetos sem dor. e é isso que sempre tento deixar claro. mas as pessoas são lindos problemas. e abismos.

por isso este bilhete. e um punhado de equívocos.

quando falei contigo, era com esse intento. e por gostar de estar contigo e querer estar contigo. e escrevo agora com o mesmo sentido. e diante dos equívocos que a linguagem fundou. não sei como você entendeu o que disse. é complicado ler silêncios. tudo que é entredois já é tão complicado. por isso tento evitar os ruídos, o que prejudica o entendimento, a não-permanência da incompreesão mútua. por isso tento estar claro para que não deixe de ser por alguma razão desconhecida, por um silêncio, por um mal-entendido, ruídos, essa eterna "incompreesão mútua" entre as pessoas. principalmente debaixo do afeto.

por isso o poema e a conversa. porque não queria deixar de estar contigo por alguma coisa não-dita, alguma falta de entendimento. com a distância, pensei que o que incomodava você era certo "ar de compromisso", ou seriedade em mim. e não era. nem é. mas também é errado imaginar que isso exclua a existência desse afeto, desse "eu-me-sentir-bem-contigo". pois há. e tu sabe disso, eu acho.

tenho medo de incompreensões. não entendi bem, por exemplo, você não ter me beijado da última vez que nos vimos. foi estranho isso (eu que comecei achando estranho, por não costumar viver esse hábito, mas que me habituei e gostava de me cumprimentar assim contigo, mesmo que o gesto pudesse ser visto como algum compromisso. mas isso não seria um problema e não via incomodos nisso. pois sabíamos de nós. era um gesto de afeto. pessoas que se gostam) justamente pelo fato de ter vindo temporalmente depois da conversa. pra mim foi como uma resposta silenciosa e triste. mas uma resposta ambígua também. não sei. não entendi o que você entendeu. nem o que sente. daí esse bilhete ter uma outra coisa.

outra coisa desse bilhete. tua voz. se existe uma cobrança possível, é esta: querer ouvir tua voz e tu dizer tuas teorias. o que tu pensa sobre isso. sobre esse "a gente/nós" que houve. poucas vezes tu falou. está perdido em minha memória o dia que tu falou. que disse algumas poucas impressões sobre mim e sobre estarmos ficando juntos. tu tem histórias pra os outros. e essas histórias eu nem ouvi, por mais banais ou corriqueiras que fossem. queria te ouvir.

esse é um desejo lúcido. e que espero não seja tomado como cobrança ou qualquer coisa mais grotesca. é unicamente porque gosto de você e por alguns instantes acho que você também. eu me sinto bem contigo e não queria perder isso por alguma coisa que já citei, algum tipo de distância sem razão.

tem um verso de bandeira assim: "a vida que poderia ter sido e que não foi". é de uma tristeza sem-fim pra mim. e é muito forte, pavoroso. guardadas as proporções, é assim em todos os nossos atos e com todos os nossos sonhos e desejos. é assim com nosso afeto. não queria imaginar um sefosseassim se posso ter um invetamosassim, éisso, criamosevivemosessesmomentos, temosissoagora.

eu gosto de tu, barra. te estimo, à vera.

e por isso,

os poemas
os encontros
o bilhete
o que foi. e que pode ser. ainda ser. ou ainda é. ou será.

esse nósgostamoseestamos
que não sei como vai (ou se já não "foi").

por isso o bilhete. por isso querer te ouvir.
esse é um desejo sincero. sem jogo. nem medo. nem do ridículo.
pois te estimo. gosto de tu.

mas também imagino como eco um longo silêncio. ou não.
espero compreensão. estar contigo. como estivemos. mas nem sei.

gosto de tu. essa é minha teoria. e isso não tem nada a ver com supressão da liberdade ou algo assim nem também com algo como tantofaz. você é um açúcar - e isso quer sempre dizer algo bom em meus poemas. é isso. para fugir de toda possibilidade de incompreensão. mesmo correndo na beira do insano. ou do assustador. e possa ser lido e colocado no lugar do riso.

como escrevo por vezes, tu diz. me diz. dessa loucura.

esse bilhete.
a gente.

umbeijo.

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