domingo, 30 de dezembro de 2007

dois-zero
zero-oito

desenhou isso na parede e ficou pensando num outro ano.
todos sabem que ele não acredita em revoluções.
pensou noutro ano, dormente, com uma lâmina.
ficava riscando o quarto - dizem que até criou uma série de
desenhos baseados no susto que teve noite passada.
mas já cobriu com alguma tinta vermelha esquecida
pelo antigo morador chinês.

ficou disfarçando o cansaço e a tristeza com um outro ano riscado
e um vídeo barato sobre elefantes e tartarugas.

não gosta de bichos e com força lembra o nome de alguma espécie.


gato.

não gosta de gatos e da presença macia, sem vertigem.
os gatos não gostam dele.

pássaro.

teve uns dois presos e engolidos pelo tempo. não lembra a cor.
não terá novos pássaros. nunca teve.

gafanhoto.

gosta da cor e da música. não encontrou muitos na vida.

pato.

não sabe desenhar. não atirou em nenhum. nunca comeu.
vê na tv. anda como um.



viu um comercial sobre pós-utopia.
desde então dorme embaixo da cama e nunca acende a luz.

achou os antigos dentes.
disse que a boca é um um desvario,
alguma brincadeira sem início.


esqueceu o outro ano em cima do cinzeiro, em brasas.
então soprou o chão como se fosse canção-sem-data.

adormece com a poeira. não sonha.

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