sábado, 11 de agosto de 2007

a primavera do tempo. vejo os homens caminhando sobre a terra. seus veículos

loucos e soberanos e seus dentes queimando o sol. os homens assaltam a cidade

como grandes animais e o ódio é o pão comum. os jardins incendiados e os pássaros

adiados pelo antebraço do dia. esse oceano do século. esse ritmo esses rostos

tudo tão deliciosamente antiquado. tudo assim nonsense. e tão fraterno e

ancestral. esse rasgão na carne esses socos no ar. posso ver os enormes sorrisos

gordos e assustados com o pássaro de fogo e com o verão. essa cacofonia fértil de

nosso cérebro. o espanto e o açúcar. essas moças desmaiando e esses vestidos. um

campo aberto e tranquilo. uma lenta caminhada. as drogas leves e que ficam

passeando sobre a pele. essas datas anteriores. esses dadas. paris. a revolução.

o que está perdido. essa música cortando as cabeças burguesas. a aurora de um

tempo como um abraço da faca. essa luz percorrendo toda a cidade e devorando as

pernas. essa grande chuva. esses trovões e os carros suspensos da mente. o breu

da tradição e a fé no esquisito. essa risada esse ganido. o comportamento

fundamental do rio. e da queda. o ventre delirante do meu corpo. meu passado.

essa música e todos eles. todos eles. todos eles. e as piadas. sobretudo as

piadas e a ironia. e esses dentes e essas unhas. docemente subvertendo os sonhos

do horizonte. e seu sono. arrancando o cabelo estéril das famílias. marchando

como um vírus sobre as praias dos homens. a fúria a rebeldia a selva acordada do

peito. a destruição de tudo que é frágil. e claro como o dia. e tem rosto e se

assusta. tudo que é silêncio. tudo que não é tumulto. tudo que não escapa. e é

contra o magma da existência. a navalha da fome de futuro e vida. a vida. nós.

todos nós. agora. agora. agora.

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